domingo, 29 de dezembro de 2019

Declaração de meu Pai, por Carlos Augusto Corrêa

Declaração de meu Pai

Carlos Augusto Corrêa



"Monumento contra o fascismo"
de Gerz

Noite de Natal, momento também de recordações. Lembrei que numa das tantas noitadas, em que ficava conversando com meu pai depois daquele espoucar de fogos, ele sorriu sereno, desses sorrisos que confirmam uma vitória consolidada na base de muita dignidade e soltou: 

- Carlos, tenho uma certeza que só vai morrer quando eu partir. Dos três filhos que fiz, nenhum de vocês saiu um alcaguete e, pior, um fascista. Tivesse um filho ligado ao fascismo, eu não saberia onde pôr o rosto, se num vaso sanitário ou numa cloaca. O fascista, filho, é uma aberração da natureza humana, uma espécie de tsunami anual. Ele é um aborto sem qualquer razão.

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Natal 2019, por Elesbão Ribeiro

Natal 2019

Elesbão Ribeiro


ao primeiro deus fez o homem e o mundo
insatisfeito com o conjunto da obra
auto reproduziu-se
tornou-se filho de si mesmo
e fez -se sem mulher

Natal com Chuva

Carlos Augusto Corrêa 


Natal com chuva não vou rimar com casamento de viúva, nem com outra coisa parecida com essa brincadeira. Mas Natal desse jeito, sem praia, sem perambulação, ao contrário do que muitos pensam, é algo aprazível pra mim. Passar com os meus, entre familiares e amigos, dá a sensação de que estou partilhando ternura e compreensão.

domingo, 22 de dezembro de 2019

Estátua de Paulo Freire na Suécia, por Carlos Augusto Corrêa

Estátua de Paulo Freire na Suécia 


Carlos Augusto Corrêa 




Notícia boa pra todo brasileiro se orgulhar. Numa praça da Suécia, há uma estátua de Paulo Freire junto a Neruda, a Angela Davis e a Mao Tse Tung. Na verdade, o maior educador brasileiro figura também ao lado da feminista e sexóloga Elise Ottesen e do cientista Borgström. 

Vejam vocês. Paulo Freire e alguns outros nomes representativos de nossa cultura não são reconhecidos aqui, embora recebam todas as honras do exterior. Freire foi convidado a se retirar durante a tristíssima ditadura de 64. E recentemente, com o governo atual, foi também ostensivamente discriminado pelo presidente do país. Esta semana, o chefe de nossa nação teve a coragem de chamar de energúmeno o Patrono da Educação Brasileira. Energúmeno!? Paulo Freire teria sido um abestado? Ele não viveu numa estrebaria. Não conviveu com cavalos.

Como é bom saber da honraria a Freire! Bom saber igualmente por um outro motivo: é que, se em seu país ele mereceu o menosprezo dos governantes, o restante do mundo cultural o louva. Está muito claro que equivocada está essa minoria que vem acintosamente discriminando esse educador maior.

Esses poucos rejeitam a quem é o terceiro teórico mais citado no mundo em trabalho acadêmico. Eles dizem não a quem tem mais de 35 títulos de Doutor Honoris Causa.

Tachado infantilmente de comunista, quando no mundo não existe ainda a sociedade comunista, tachado de subversivo porque revolucionou o conceito conservador e ultrapassado de educação, os seus "críticos" preferem acreditar sabem em quê? Na "fabulosa" teoria da tal Escola sem Partido, muito conhecida em algumas esquinas do país.

Tenho orgulho de ser de um país que pariu um Cruz e Sousa, um Castro Alves, um Machado de Assis. Que gerou um Drummond, um Niemeyer. Um Paulo Freire. Nomes que, de fato, não apenas por foto, levam o país a ser respeitado culturalmente no planeta.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Resenha do livro "Poema da travessia", por

Publicado originalmente em:
http://kurumata.com.br/2019/12/13/bichos-na-travessia/

Bichos na travessia

Texto de Nonato Gurgel

13 de dezembro de 2019



Conheci a escrita de Ana Chiara no início do milênio. Seus livros Pedro Nava: um homem no limiar (2002) e Ensaios de possessão (2006), dentre outros textos em livros, revistas e jornais, sugeriam que aquela ensaística de ‘tom imaginário’ anunciava alguma ficção. Ana usava no ensaio procedimentos da ficção. Desde então, esperava este Poema da travessia (2019).

Enquanto esperava o livro, guardei num caderno de aulas de literatura o poema Madalena, publicado em jornal, no qual Ana relê a personagem trágica de Graciliano Ramos em São Bernardo. Começa assim o texto que estetiza a voz do culpado Paulo Honório:

Madalena, corujinha ensimesmada,

o ciúme monstro vadio
penetrou meus ossos, encharcou por dentro, virei calunga…
que estupidez, que porcaria
bichinho,
sol, chuva, noites de insônia, cálculos, combinações, violências…

Foi pensando nessa dicção oral de Madalena, que aguardei o livro lançado esta semana na UERJ. Poema da travessia é composto de 25 ‘cantos’, mais dois textos finais sem numeração. Tem ilustrações e posfácio do Artur de Vargas Giorgio, que ressalta na ‘performance’ da autora uma ‘arqueologia de si’, ‘uma espécie de escrita de si’. O volume abre com uma bela epígrafe do Baudrillard relacionando a viagem à ausência e ao corpo – dois temas que atravessam essa poética repleta de ‘mapa’ ‘passaporte’ ‘caderneta de viagem’ ‘trens noturnos’ e ‘aviso de trem’.


Travessia em si

Madalena não está no livro. Daquela dicção afetiva formatada em diminutivos (‘corujinha’, ‘bichinho’), quase nenhum eco. Poema da travessia é conciso, telegráfico. Suas linguagens verbais e não verbais remetem às formas breves, rasuras. Remetem à irreverência irônica, cortante, das poéticas modernas (Oswald de Andrade, Cacaso, Chico Alvim), e aos versos curtos, às vezes bruscos, como podemos ouvir no ‘canto’ XX dessa travessia de eco nietzschiano:

Terreno neutro
Desço aqui
Hoje

Estação sossego
Mapa aberto sobre os joelhos
Vejo estrangeiros na plataforma

Pensamentos em passos de pomba
Perturbam a espera
Sempre bom guardar um doce para depois
Como na autobiografia do Nietzsche, os bichos e sua fisiologia têm lugar nessa travessia. Os ‘pensamentos em passos de pomba’ rasuram a plenitude da lesma que, ao passar, deixava ‘um rastro prateado’. Além da pomba lê-se, nessa travessia, figurações do beija-flor, macaco, égua, cadela, galinha e lacraia, dentre outros. Nada daquela ‘corujinha’ que era a Madalena. Na travessia, lê-se uma lacraia deslocada. Lacraia pica, é predadora. Persegue insetos e animais pequenos.

Descobri que em cada segmento do corpo da lacraia existe um par de pernas, num total de pelo menos 15 pares. Daí tanto deslocamento, pensei, tanta perna pelo mundo, perna pela página. Para que tanta perna, meu deus, pergunta minha mente antiga viciada em anjos tortos, remate de males, citações sem aspas. Dessa matéria, a poeta compõe as ‘várias personas vampirizadas do texto alheio’, como lemos nos seus Ensaios de Possessão.

Desde os sertões do Guimarães Rosa e a música do Milton Nascimento, a palavra travessia transformou-se num signo poético-cultural que remete ao planeta Minas de onde vem Ana Chiara. Planeta barroco onde o exagero e a contradição moderna formatam o ‘gosto exagerado pelo real mais erradio’. Sua ‘travessia de través’ é feita pelas ‘veredas abertas’. Como na odisseia sertaneja do Riobaldo, essa é também uma ‘viagem no tempo’, tipo pé-na-estrada dizendo que ‘nada será como antes/… Precisa-se de algum amor’.

Citare, em latim, quer dizer por em movimento. E o que é a travessia senão uma ação que move, desloca? Desde o século passado, a gente aprendeu que o moderno é deslocado. Produzida ‘por deslocamentos mínimos’ (canto III), essa travessia poética inscreve modos de sobreviver, como no canto XII: ‘A lacraia sobrevive do intenso e lento deslocar-se’.

Entrevista de Marisa Loures com Oswaldo Martins na Tribuna de Minas

Publicado originalmente em:





Na íntegra a entrevista de Marisa Loures:

domingo, 15 de dezembro de 2019

Greta Ernman Thunberg( A "pirralha" que Admiro), crônica de Carlos Augusto Corrêa

Greta Ernman Thunberg( A "pirralha" que Admiro)

Carlos Augusto Corrêa


Volta e meia a história nos presenteia com ums talentos precoces. Anos atrás, foi a moça Malala, ativista em prol da educação e da mulher. Mais recentemente, outra moça, Greta Ernman Thunberg, uma sueca, melhor, uma suequinha danada, atenta ao aquecimento global e ao meio ambiente.

Acompanho a distância a sua caminhada. Ser ativista ambiental em sua idade não é tão comum. Tivesse eu um filho nessa faixa com a mesma preocupação, me sentiria feliz. Por que não? Afinal, teria gerado alguém que desde cedo teria resolvido pôr a boca no trombone.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

pinta, poema inédito de oswaldo martins

pinta

oswaldo martins

poema inédito de oswaldo martis, parte integrante de um novo livro que está sendo criado



1

destino

na pensão de dona dorvalina,
ela a única maria da pinta

na parte traseira da coxa
ao quase iniciar-se da bunda

a marca do divino redunda
em desejo peixeira e trouxa


2
paisagem

os teréns a estrada
os pés vencidos

a rachadura a racha
a seca maria a quase

ossos divisa nos ouvidos
algo a insurgir como sertão



terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Prof. Beto lê "Antiode para kalashnikov", de Alexandre Faria

"Antiode para kalashnikov", de Alexandre Faria, 

apresentada pelo Prof. Beto no Sarau da Universidade das Quebradas


Na última sexta, no Sarau da Universidade das Quebradas, no MAR (Museu de Arte do Rio), o Professor Paulo Roberto Tonani do Patrocínio leu uma das Antiodes do livro que acabamos de lançar.

Confira o vídeo:





Saiba mais sobre o projeto


segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Carte du Tendre, inédito de Ana Chiara

Carte du Tendre

Ana Chiara

Confira aqui um inédito do livro Poema da travessia, que a Editora TextoTerritório lançará, na próxima quarta, 11/12.

O livro já está em pré-venda com 10% de desconto no site da editora.

Deserto 4, de Artur de Vargas Giorgi


Mapas terrestres
Rotas caminhos
Pés calçados rês do chão
Desequilíbrio dos saltos

domingo, 8 de dezembro de 2019

Ah Poesia! - Carlos Augusto Corrêa

Ah Poesia!

Carlos Augusto Corrêa

Ah Poesia!
Esteja a sociedade com fartura de economia e vida política ou em situação dramática (como a nossa), estarão lá os poetas, esses seres frágeis por não terem a penetração de outros, mas vigorosos quando se trata de mostrar o seu trabalho.

sábado, 7 de dezembro de 2019

Entrevista com Artur de Vargas Giorgi


Artur de Vargas Giorgi é paulistano; reside em Desterro (Ilha de Santa Catarina) desde 2002. É professor de Teoria Literária na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Nas artes visuais, desenvolve um trabalho nada sistemático entre o desenho, a colagem, a fotografia e a pintura, sempre em contato tenso com a palavra. No blog contemplação metódica da mosca - espécie de laboratório ou de arquivo anárquico - esse trabalho emula um dia-a-dia, num curto período, mas com efeito se estende, intermitentemente, de 2010 ao presente. Publicou com Ana Chiara o livro enxerto para uma vida feliz (Rio de Janeiro, Casa 12, 2012). Algumas de suas ilustrações estão em capas de livros e, em 2018, participou da exposição coletiva Múltiplos (Museu Victor Meirelles, Florianópolis), com trabalho feito em parceria com Cristiane Lindner.




Artur volta à parceria com Ana Chiara no livro Poema da travessia, que a Editora TextoTerritório lançará na próxima quarta, dia 11/12.


Leia aqui uma entrevista da TextoTerritório com o artista e veja alguns de seus trabalhos, escolhidos pelos editores dentre diversos que estão no blog contemplação metódica da mosca.



TT: Como você pensa a relação entre imagem e palavra?

Artur de Vargas Giorgi: Diria que a relação é estética, no sentido mais fundamental do termo: palavra e imagem são modos – distintos, mas afins – da vida sensível. Com elas e entre elas, os afetos, as emoções, os pensamentos, enfim, os sentidos (intelectuais, corpóreos) transitam no espaço e no tempo, de maneira muitas vezes imprevista. Esse trânsito é, talvez, a força por elas compartilhada: cada palavra, cada imagem modula uma saída, uma abertura no mundo. Não à toa, sujeitos e comunidades se constituem, antes de tudo, com o que falam, escutam, veem, tocam, sentem, e com o que podem ou não fazer com o que falam, escutam, veem, tocam e sentem. Palavras e imagens são estruturantes da vida individual e coletiva.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

"O dicionário e o conto", por Heloísa Buarque de Hollanda

O dicionário e o conto

Heloísa Buarque de Hollanda

Este é o prefácio do livro A cidade é um rim, de Felipe Boaventura. Vale a pena conhecer.




O título é instigante. Que estes contos são sobre a cidade não há dúvida. 

O livro constitui uma bela trama de ruídos urbanos, relatos de pequenos acontecimentos aparentemente insignificantes que voltam, recorrentes, na memória, paisagens belas e não tão belas, os cheiros e as fraturas que o asfalto quente oferece à nossa experiência e imaginação. 

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

"Da morte. Odes mínimas", de Hilda Hilst

Da morte. Odes mínimas é uma série de 50 poemas, publicada pela primeira vez em 1980.

O verso "Morte, imagina-te." é considerado imperdível pela poeta Ana Chiara. Confira aqui no Bate-bola.

Reproduzimos, aqui, os 7 primeiros poemas, a partir do site do Instituto Hilda Hilst. Vale a pena conhecer.

I
Te batizar de novo.
Te nomear num trançado de teias
E ao invés de Morte
Te chamar Insana
Fulva
Feixe de flautas
Calha
Candeia
Palma, por que não?
Te recriar nuns arcoíris
Da alma, nuns possíveis
Construir teu nome
E cantar teus nomes perecíveis
Palha
Corça
Nula
Praia
Por que não?

Bate-bola com Ana Chiara

Ana Chiara é professora de Literatura Brasileira da UERJ, autora de Pedro Nava: um homem no limiar (EdUERJ), Ensaios de Possessão (irrespiráveis) (Ed. Caetés) e, com Artur de Vargas Giorgi, enxerto para uma vida feliz (Casa 12). 


Poema da travessia, seu mais recente livro de poemas, com imagens de Artur de Vargas Giorgi.



Confira aqui as resposta da autora para as tradicionais perguntas do nosso Bate-bola.


quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

"Depressa a Vida Passa", de Fred Martins e Marcelo Diniz

Mais uma parceria de um autor da TextoTerritório com Fred Diniz, Depressa a vida passa é um soneto recém publicado no livro +1. Confira a canção no vídeo a seguir.

Depressa a vida passa, mal se sente 
E tudo já parece diferente
O que doeu um dia hoje dormente
O amanhã não se lembra do presente

E mal tudo é passado, o mais recente
Recomeça a tecer o recorrente
A cada ruga tudo é mais ausente
O tempo foge e sempre leva a gente

Fascina como a infância é inocente, eterno
No vigor do adolescente, no idoso ainda
Crepita o sol poente 

Fascina como tudo é transparente
Depressa a vida passa e de repente desfaz-se
N'água a face que a ressente.


terça-feira, 3 de dezembro de 2019

"Madame Maldade", de Fred Martins e Roberto Bozzetti



Confira neste vídeo "Madame Maldade", parceria de nosso autor Roberto Bozzetti com Fred Martins. 

Na gravação ao vivo, Alessandra Terribili é acompanhada de Pedro Vasconcellos (arranjo e direção musical), Joelson Conceição (violão), Ígor Diniz (contrabaixo), Daniel Rodrigues (trombone), Léo Barbosa (percussão) e Sandro Souza (bateria). 
Gravado no show de lançamento do meu EP Outras Manhãs - Clube do Choro de Brasília, maio/2019.




Em seu blog, Firma irreconhecível, Bozzetti comenta essa parceria.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Antiodes - lançamento virtual


Chegaram ontem da gráfica os exemplares de "Antiodes", livro de Alexandre Faria e Oswaldo Martins.

São poemas de um projeto que iniciamos há 10 anos e resolvemos publicar agora como uma resposta inevitável ao quadro político, social, moral do Brasil de hoje.

Toda a discussão sobre o avanço do conservadorismo que se intensifica a partir do golpe de 2016 já nos era pertinente desde muito antes. Davam seus sinais em episódios aparentemente isolados como a demissão de professores por motivos torpes e ideológicos, a censura de livros em escolas e em exames de seleção de universidades, o achincalhamento de alunas que usavam minissaia etc.



Reunimos neste livro mais de 40 Antiodes e acrescentamos um prefácio crítico, analítico e propositivo, indicando caminhos para desdobramentos do projeto, que devem se seguir nos próximos anos.

Estamos aí! Na luta pela liberdade de pensamento e de expressão, no combate ao cinismo, à cretinice e à hipocrisia desses tempos para os quais o preconceito, a intransigência, a ignorância e o medo forraram a cama.





A Editora fez uma tiragem limitada e exclusiva para assinantes do seu Clube de Leitores e os poucos exemplares restantes estão à venda. Por isso, não vai ter lançamento nem noite de autógrafos.

Quem estiver a fim, pode encomendar no site ou no WhatsApp da Editora.

WhatsApp: https://wa.me/5521972062650 .

domingo, 1 de dezembro de 2019

Sócrates, o Magrão do Futebol, por Carlos Augusto Corrêa

Sócrates, o Magrão do Futebol

Carlos Augusto Corrêa




A Copa de 82, que pro brasileiro apaixonado pela bola, causou grande tristeza mostrou por outro lado talentos já no auge da forma física e técnica: Falcão, Zico, Junior, Cerezo. Mostrou também, e com grande relevo, o Doutor Sócrates.

sábado, 30 de novembro de 2019

Edipiana, de Elesbão Ribeiro

Edipiana

Elesbão Ribeiro


para  jorge jesus, que ele nunca jogue fora a nossa roda

Paula Rego: Primeira missa no Brasil

A dona Eunice não era uma mulher bonitona, era uma mulher bonita, miúda, bem ajeitada. Eu gostava mesmo era do perfume da dona Eunice. Ainda hoje sou capaz de reconhecer o seu perfume, Instituto de Educação. Cheirava bem, a dona Eunice.

Com seis anos de idade, por ainda não saber o que é namoro, eu só desejava que a dona Eunice fosse minha mãe. 

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Lançamento de Poema da Travessia, de Ana Chiara



Pré-venda já disponível no site da editora:

https://www.textoterritorio.com.br/home#h.p_gPQ5uDYNUKV-


Confirme sua presença:



André Capilé fala sobre sua participação no Podcast Águas de Kalunga

André Capilé fala sobre sua participação no Podcast Águas de Kalunga



Mariana Kaufman & Lisa Eiras convidaram a mim, mais outras autoras e outros autores, para escrever uma narrativa a partir de obras em exposição na mostra O Rio dos Navegantes, no MAR. Os textos ganham a voz de Elisa Lucinda e têm sido disponibilizados, desde 20 de novembro, quartas e sextas em plataformas várias. O podcast ganha o nome de Águas de Kalunga, nome do conto de Conceição Evaristo, o episódio 1 da série.

Seguem os links do episódio 2, chamado "demuda", de minha autoria. Quem conhece o chamado do boi SERENO que tenho escrito, vai reconhecer coisa ali e acolá -- e o que devirá. indico a referência, a modo futuro, por motivos de haver malogrado o plano, conforme apontou Guilherme: me pediram um conto, entreguei poema.

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Poema visual de Marcelo Diniz

O livro +1, de Marcelo Diniz, que será lançado amanhã, compõe-se de sonetos originais, traduções, e poemas visuais.

Está imperdível!!
Marcelo Diniz, do livro +1





terça-feira, 26 de novembro de 2019

Pour une inconstante, de Georges Scudéry / Para uma incosntante, tradução Marcelo Diniz

Para uma inconstante

Marcelo Diniz (trad.)

Esta tradução é uma das que estão presentes no livro +1, de Marcelo Diniz, que será lançado no próximo dia 28.



ela ama e já não ama e muda a toda hora
bela e volúvel sirvo-lhe a todo momento
é firme o meu desejo o dela é como o vento
sem bálsamo nem cura a loucura só piora

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Um fragmento de "Davi", de Dani Rodrigues

... faço sexo com as palavras, surge o vazio na tela do computador. Hoje  faz  oito meses que vivi a experiência de estar sozinha no laboratório de análises clínicas. Aguardando o envelope com minha vida dentro dele. Como quando transei com você. Vazio em meu peito, ainda cheio de leite. Olho pela janela do apartamento, décimo oitavo andar e vejo a copa de árvores amarelas. Lagartixas correm na parede enquanto conto a história do meu nascimento e renascimento. Parece que foi ontem que nasci. Primavera lá fora e aqui dentro sempre inverno, inferno, enfermo. Minha infância reflete aquelas flores amarelas.

domingo, 24 de novembro de 2019

O Flexível e o Fascista, crônica de Carlos Augusto Corrêa

O Flexível e o Fascista

Carlos Augusto Corrêa

Augusto Meyer
As aulas do Professor Augusto Meyer sobre teoria literária na antiga Faculdade Nacional de Filosofia, mais tarde UFRJ, eram, além da transmissão de conteúdo, grandes lições de vida.

sábado, 23 de novembro de 2019

"Versos à boca da noite", de Carlos Drummond de Andrade

Versos à boca da noite

Carlos Drummond de Andrade


No bate-bola com Marcelo Diniz, este foi escolhido como um poema imperdível.



Sinto que o tempo sobre mim abate
sua mão pesada. Rugas, dentes, calva.
Uma aceitação maior de tudo,
e o medo de novas descobertas.

Escreverei sonetos de madureza?
Darei aos outros a ilusão de calma?
Serei sempre louco? Sempre mentiroso?
Acreditarei em mitos? Zombarei do mundo?

Há muito suspeitei o velho em mim.
Ainda criança, já me atormentava.
Hoje estou só. Nenhum menino salta
de minha vida, para restaurá-la.

Mas se eu pudesse recomençar o dia!
Usar de novo minha adoração,
meu grito, minha fome. Vejo tudo
impossível e nítido, no espaço.

Lá onde não chegou minha ironia,
entre ídolos de rosto carregado,
ficaste, explicação de minha vida,
como os objetos perdidos na rua.

As experiências se multiplicaram:
viagens, furtos, altas solidões,
o desespero, agora cristal frio,
a melancolia, amada e repelida,

E tanta indecisão entre dois mares,
entre duas mulheres, duas roupas.
Toda essa mão para fazer um gesto
que de tão frágil nunca se modela,

E fica inerte, zona de desejo
selada por arbustos agressivos.
(Um homen se contempla sem amor,
se despe sem qualquer curiosidade.)

Mas vêm o tempo e a idéia de passado
visitar-te na curva de um jardim.
Vem a recordação, e te penetra
dentro de um cinema, subitamente.

E as memórias escorrem do pescoço,
do paletó, da guerra, do arco-íris;
enroscam-se no sonho e te perseguem,
à busca de pupíla que as reflita.

E depois das memórias vem o tempo
trazer novo sortimento de memórias,
até que, fatigado, te recuses
e não saibas se a vida é ou foi.

Esta casa, que miras de passagem,
estará no Acre? na Argentina? Em ti?
Que palavra escutaste, e onde, quando?
Seria indiferente ou solidária?

Um pedaço di ti rompe a neblina,
voa talvez para a Bahia e deixa
outros pedaços, dissolvidos no atlas,
em País-do-Riso e em tua ama preta.

Que confusão de coisas ao crepúscolo!
Que riqueza! Sem préstimo, é verdade.
Bom seria captá-las e compô-las
num todo sábio, posto que sensível:

uma ordem, uma luz, uma alegria
baixando sobre o peito despojado.
E já não era o furor dos vinte anos
nem a renúncia às coisas que elegeu,

Mas a penetração no lenho dócil,
um mergulho em piscína, sem esforço,
um achado sem dor, uma fusão,
tal uma inteligência do universo

comprada em sal, em rugas e cabelo.

Bate-bola com Marcelo Diniz


Marcelo Diniz é autor de Trecho (Aeroplano/Fundação Biblioteca Nacional, 2002), Cosmologia (7Letras, 2004). Além de poemas, escreve letras de canções sempre em parceria com Fred Martins. É tradutor e professor de Teoria Literária na Universidade Federal do Rio de Janeiro.



Diniz vai lançar no próximo dia 28 o livro de poema +1, pela TextoTerritório. 


Confira a seguir o Bate-bola do autor com o nosso Blog.




sexta-feira, 22 de novembro de 2019

4 canções de Rogério Batalha


Inauguramos hoje nossa base de áudios na SoundCloud com 4 canções de Rogério Batalha

O autor escolhido para presentear os sócios do Clube do Livro em Dezembro inaugura nossa conta na Clound Soud, com 4 canções, 3 delas inéditas.


Os leitores do clube receberão os três últimos livros do autor.

Poeta e letrista, Batalha é parceiro de Agenor de Oliveira, Gerson Conrad, Maurício Barros, Mauro Sta Cecília, Moacyr Luz, Nilson Chaves, entre outros. Com músicas interpretadas por Frejat, Humberto Effe, João Cavalcanti, Moacyr Luz, Nelson Sargento, Ney Matogrosso, Viviani Godoy, entre outros. Autor de livros de poemas prefaciados por Antonio Cícero e Waly Salomão. Seus últimos livros foram publicados pela editora Texto Território: A medida do sal, Inventário, Cidade Fundida, Exercício de Nuvens, Azul e Hérnia. (Compre os livros aqui)

Ano passado também lançou, com Agenor de Oliveira e Mauro Santa Cecília, o álbum Hoje o dia raiou mais cedo

Confira a seguir 4 canções de Rogério Batalha e parceiros, que postamos na Cloud Sound.

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Um inédito do livro "+1", de Marcelos Diniz

No próximo dia 28, lançaremos o livro +1, de Marcelo Diniz.
Confira a seguir um poema inédito, do livro.



você já percebeu somente em vê-lo
que o que se lê é só +1 soneto
feito num mundo dele tão repleto
que tanto fez fazê-lo ou não fazê-lo

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

"Moços, digam não à censura", crônica de Carlos Augusto Corrêa

Moços, digam não à censura

Carlos Augusto Corrêa

Lucas CRANACH - (1472-1553)
Queima dos escritos de Jan Huss diante de um príncipe

Quem escreve aqui vem de longe, lá dos anos 60, e ainda novo aprendeu a rejeitar um golpe de estado, o de 64, e mais tarde, o de 69, que durou duas décadas. Foram duas décadas de regime forçado, de prisão de nossa consciência em nome de uma "democracia" que bem poderia ser vendida em farmácia com receita de laxante.

"Sou negr@", poema de Vilma Costa

Sou negr@

Vilma Costa

Cunca Bocayuva

Lá fora a vida pulsa
em mil atabaques
Sou negr@
tenho a proteção dos orixás
sou negr@

20 de novembro de 2019

Charge de Latuff sobre o genocídio da população negra

“Essa agressão de um policial militar, que por acaso também é um parlamentar, contra uma charge exposta no Congresso Nacional e que denuncia a violência policial, nos leva a seguinte reflexão. Se fazem isso contra um cartaz, imagine contra gente de carne, osso e pele negra!” (Carlos Henrique Latuff)

Saiba mais aqui.

A razão periférica, poema de Cândido Rolim

A razão periférica

Cândido Rolim



Esses só
vistos
quando e onde
invisíveis

Esses ausentes
estofos da
razão que os
alveja

Esses que
por motivos bem
diferentes
nascem

Do livro Sutur.




terça-feira, 19 de novembro de 2019

Noturno da janela, de Claudia Chigres

Noturno da janela

Claudia Chigres

Edward Hopper

I

Corpos repousam em desconcerto. Pernas sobre pernas úmidas, braços-vigas moldam a superfície densa e fluida da noite. A distância das carnes ensaia em sigilo memória deserto linguagem vertigem. O sangue sono convertido em argamassa cal mármore de onde emerge o líquido da vida.


II

O som distante das águas lava um rosto levemente salgado. São apenas olhos de neon que vazam desejos, debruçados no agudo quadrilátero do quinto andar. Olhos luzes espelho vidro expelem ferro derretido, fuga fuligem. Olhos ondas que simulam o trânsito, movendo-se em lenta desarmonia na algema de aço concreto e pó.

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Uma caixa, poema de Franklin Alves Dassie

Franklin Alves Dassie foi colocado em destaque no Bate-bola com Ana Paula El-Jaick. Confira aqui um poema de seu livro Grandes mamíferos, escolhido pelos editores do blog.

Venezuelanos viajam em caminhão entre Peru e Equador. Foto: Juan Vita
https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/1620862246614929-o-ano-dos-imigrantes#foto-1620862246931951

Bate-bola com Ana Paula El-Jaick

Ana Paula El-Jaick é autora dos livros ''Faz duas semanas que meu amor'' (Editora Summus, 2008), ''Tríptico'' (Edições Macondo, 2017) e Há um colete salva-vidas embaixo do seu assento (TextoTerritório, 2018). 




Confira aqui o bate-bola da autora com o Blog da TextoTerritório



domingo, 17 de novembro de 2019

Sangue bão, Carlos Augusto Corrêa

Sangue bão

Carlos Augusto Corrêa 


https://pt.wikipedia.org/w/index.php?curid=2941674

Faz mais ou menos umas duas décadas eu ainda cortava o cabelo ali na rua do Catete num salão remediado. Meu cabeleireiro, o José, cara sobretudo paciente com meu cabelo que mais parecia uma juba ( ao contrário de hoje), me cortava a tal juba. Nisto notei pelo espelho que o próximo freguês, sentado quase atrás de mim, era um já sessentão calado, aparentemente de hábitos simples. Ele tinha as mãos cruzadas sobre as pernas e a cabeça baixa em ar por demais pensativo. Lembrava alguém do interior, apesar da roupa discreta e luxuosa.

De repente pus de lado minha distração, fixei o olhar e descobri: quem ali se sentava era ele, o poeta João Cabral de Melo Neto. De imediato tive vontade de interromper o corte e ter uma conversinha, não de pé de "oreia", mas uma fala rápida, só pra respirar o clima de estar diante da grandeza de um poeta do gênero. Meu jeito arredio, como sempre, funcionou pra me atrapalhar. Olhava pra ele, e José continuava, olhava de novo, e o cabeleireiro... Quis lhe perguntar qual tinha sido a sua experiência ao escrever "Educação pela Pedra". Não perguntei. Fui me enchendo de ansiedade até que me voltei pra José e falei:

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

DECRETO-LEI N° 4457, de Cesar Cardoso

DECRETO-LEI N° 4457
Dispõe sobre o jogo do caxangá e dá outras providências.

Cesar Cardoso


“Les Bourgeois de Calais”, Auguste Rodin


O Presidente da República, usando das atribuições que lhe confere o parágrafo 1° do Art. 2° da Constituição Federal, decreta:

Art. 1° Comete grave infração contra a pátria e seus símbolos o escravo de Jó que:
 
I – For pego jogando o caxangá ou incite a realização de tal jogo;

II - Pratique atos destinados à organização do citado jogo, tais como tirar, botar ou deixar o Zé Pereira ficar.

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

"Arroz, Feijão, Saúde, Calor e Ela", conto de Cynthia Magluta

Arroz, Feijão, Saúde, Calor e Ela 

Cynthia Magluta 


Ai, que frio! 

Porque foram me tirar de lá? 

Ouvia sempre essa voz, cantando, falando comigo. 

Mão quentinha, gostoso. 

Porque me tiraram de perto dela? 

Cansado. 

*  *  * 

Quanta luz! 

Pelo menos nessa caixa está quentinho, mas seco. Até que gosto, mas é bem mais duro. Quanta coisa grudada em mim, difícil me mexer. Muitas caixas com bebês, mão de borracha por todo lado e cadê ela? Acho que aquela garota está falando comigo. Ah, acho que entendi, quer saber como estou, se o frio já passou? 

- Melhor. Mas estou com uma fraqueza. Sabe de onde vem? 

- Quem mandou nascer no sábado de tarde? 

terça-feira, 12 de novembro de 2019

A coisa pública, crônica de Carlos Augusto Corrêa

A Coisa Pública 

Carlos Augusto Corrêa 

(Publicado no Facebook em 22/10/2019)

Semana passada, no Blog da Texto Território, que, diga-se, tenho lido diariamente, vi notícia interessante. É que Alexandre Faria e Oswaldo Martins sugeriram que cronistas, contistas, romancistas e ensaístas enviassem pro Blog textos sob o título "A coisa pública". Vão fazer uma seleção e irão publicá-Los em torno de 15 de novembro. 

domingo, 10 de novembro de 2019

"Cura Gay!? Que Horror!", crônica de C

Cura Gay!? Que Horror!

Carlos Augusto Corrêa


Foto: FosFlorescências, de Carolina Bezerra.
Estamos fartos,- sim, me incluo, e muito, nessa lista - de tanto preconceito. Quer dizer, então, que um Juiz do Distrito Federal autorizou a chamada"cura gay"? É!? Era só o que faltava. Mais uma vez ouvimos essa estória de que o gay é anormal ou fora da ordem ou fora de que outra classificação malpreconcebida.

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Manto eminente, resenha de Lúcio Autran

MANTO EMINENTE – Oswaldo Martins e Arthur Bispo do Rosário – os aedos desencantadores das palavras – ou “os planos da arte”.

Lúcio Autran

(Resenha do livro manto, de oswaldo martins, publicada originalmente no Blog de Lúcio Autran, em 07/11/2019)
“a voz na falha das mãosos lenho-laçosos fios
os planos da arte”
sianinha – Oswaldo Martins

Ao menos para mim, é muito difícil fazer da loucura objeto da poesia, aliás, mais do que isso, difícil falar da loucura, poeticamente ou não. Tudo nesse assunto é estigma, até porque quem vivenciou alguma forma de... e aqui o problema se evidencia, como chamar a “loucura”? Doença mental, alienação? E seu sujeito, doido? Ou, carinhosamente, que por vezes é possível, principalmente nas lembranças mais remotas da infância, doidinho?

Melhor nomeá-lo assim do que apedrejá-lo ou dele rir, ou cuspir-lhe a face transtornada, pois a loucura nada tem de lírica, muito menos de divertida, ao contrário, ela dói, rasga de angústia seu portador e os que com ele convivem, pois a sociedade, se melhorou no trato com ele, foi muito pouco, e ainda está presente em nós, navega no nosso preconceito, a “Nau dos Insensatos”, o escondê-lo na vergonha dos segredos da família, medo talvez de que sobre nós recaia o fatal estigma, como certa vez arrisquei: “No fundo das grutas, esperando adormecerem / os filhos e os vizinhos, para saírem pelos fundos. / Como a nudez, é melhor escondê-los nas serras / de Barbacena, ouro podre do limite das grutas”.

É o medo de um estigma infelizmente ainda presente, pois quem, como dizia e as palavras me fizeram desviar, conviveu com alguma forma de loucura sabe como é tênue a membrana que separa a doença de uma suposta, e apenas suposta, “normalidade”, citoplasma mental.

Mas toda sinonímia é precária, senão impossível. Qual a abordagem possível da loucura, se mesmo a abordagem “científica”, médica, ainda padece de irremediáveis precariedade e desconhecimento, salvo, aberta e honestamente, confessar esses mesmos desconhecimento e precariedade?

Talvez a poesia seja a única forma possível, pois permite a desconstrução, permite a (in) significação, o (não)significado, o desprezo ao significante, a partir do estigma / enigma onde o encarceram.

Como reconstruir a linguagem dos loucos? E o chamemos assim, por estranho que pareça, pois ainda acho “louco” a palavra de menor força estigmatizante. Como nos aproximar de sua sintaxe, que sintaxe é essa e como se recria no nada?

Convocatória

Envie seu texto para Blog da TextoTerritório - "Erotismo e saúde"

  Milo Manara - Enfermeira Envie sua participação sobre o tema "Erotismo e saúde" para o Blog da TextoTerritório. Milo Manara - Nã...