sábado, 30 de novembro de 2019

Edipiana, de Elesbão Ribeiro

Edipiana

Elesbão Ribeiro


para  jorge jesus, que ele nunca jogue fora a nossa roda

Paula Rego: Primeira missa no Brasil

A dona Eunice não era uma mulher bonitona, era uma mulher bonita, miúda, bem ajeitada. Eu gostava mesmo era do perfume da dona Eunice. Ainda hoje sou capaz de reconhecer o seu perfume, Instituto de Educação. Cheirava bem, a dona Eunice.

Com seis anos de idade, por ainda não saber o que é namoro, eu só desejava que a dona Eunice fosse minha mãe. 

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Lançamento de Poema da Travessia, de Ana Chiara



Pré-venda já disponível no site da editora:

https://www.textoterritorio.com.br/home#h.p_gPQ5uDYNUKV-


Confirme sua presença:



André Capilé fala sobre sua participação no Podcast Águas de Kalunga

André Capilé fala sobre sua participação no Podcast Águas de Kalunga



Mariana Kaufman & Lisa Eiras convidaram a mim, mais outras autoras e outros autores, para escrever uma narrativa a partir de obras em exposição na mostra O Rio dos Navegantes, no MAR. Os textos ganham a voz de Elisa Lucinda e têm sido disponibilizados, desde 20 de novembro, quartas e sextas em plataformas várias. O podcast ganha o nome de Águas de Kalunga, nome do conto de Conceição Evaristo, o episódio 1 da série.

Seguem os links do episódio 2, chamado "demuda", de minha autoria. Quem conhece o chamado do boi SERENO que tenho escrito, vai reconhecer coisa ali e acolá -- e o que devirá. indico a referência, a modo futuro, por motivos de haver malogrado o plano, conforme apontou Guilherme: me pediram um conto, entreguei poema.

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Poema visual de Marcelo Diniz

O livro +1, de Marcelo Diniz, que será lançado amanhã, compõe-se de sonetos originais, traduções, e poemas visuais.

Está imperdível!!
Marcelo Diniz, do livro +1





terça-feira, 26 de novembro de 2019

Pour une inconstante, de Georges Scudéry / Para uma incosntante, tradução Marcelo Diniz

Para uma inconstante

Marcelo Diniz (trad.)

Esta tradução é uma das que estão presentes no livro +1, de Marcelo Diniz, que será lançado no próximo dia 28.



ela ama e já não ama e muda a toda hora
bela e volúvel sirvo-lhe a todo momento
é firme o meu desejo o dela é como o vento
sem bálsamo nem cura a loucura só piora

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Um fragmento de "Davi", de Dani Rodrigues

... faço sexo com as palavras, surge o vazio na tela do computador. Hoje  faz  oito meses que vivi a experiência de estar sozinha no laboratório de análises clínicas. Aguardando o envelope com minha vida dentro dele. Como quando transei com você. Vazio em meu peito, ainda cheio de leite. Olho pela janela do apartamento, décimo oitavo andar e vejo a copa de árvores amarelas. Lagartixas correm na parede enquanto conto a história do meu nascimento e renascimento. Parece que foi ontem que nasci. Primavera lá fora e aqui dentro sempre inverno, inferno, enfermo. Minha infância reflete aquelas flores amarelas.

domingo, 24 de novembro de 2019

O Flexível e o Fascista, crônica de Carlos Augusto Corrêa

O Flexível e o Fascista

Carlos Augusto Corrêa

Augusto Meyer
As aulas do Professor Augusto Meyer sobre teoria literária na antiga Faculdade Nacional de Filosofia, mais tarde UFRJ, eram, além da transmissão de conteúdo, grandes lições de vida.

sábado, 23 de novembro de 2019

"Versos à boca da noite", de Carlos Drummond de Andrade

Versos à boca da noite

Carlos Drummond de Andrade


No bate-bola com Marcelo Diniz, este foi escolhido como um poema imperdível.



Sinto que o tempo sobre mim abate
sua mão pesada. Rugas, dentes, calva.
Uma aceitação maior de tudo,
e o medo de novas descobertas.

Escreverei sonetos de madureza?
Darei aos outros a ilusão de calma?
Serei sempre louco? Sempre mentiroso?
Acreditarei em mitos? Zombarei do mundo?

Há muito suspeitei o velho em mim.
Ainda criança, já me atormentava.
Hoje estou só. Nenhum menino salta
de minha vida, para restaurá-la.

Mas se eu pudesse recomençar o dia!
Usar de novo minha adoração,
meu grito, minha fome. Vejo tudo
impossível e nítido, no espaço.

Lá onde não chegou minha ironia,
entre ídolos de rosto carregado,
ficaste, explicação de minha vida,
como os objetos perdidos na rua.

As experiências se multiplicaram:
viagens, furtos, altas solidões,
o desespero, agora cristal frio,
a melancolia, amada e repelida,

E tanta indecisão entre dois mares,
entre duas mulheres, duas roupas.
Toda essa mão para fazer um gesto
que de tão frágil nunca se modela,

E fica inerte, zona de desejo
selada por arbustos agressivos.
(Um homen se contempla sem amor,
se despe sem qualquer curiosidade.)

Mas vêm o tempo e a idéia de passado
visitar-te na curva de um jardim.
Vem a recordação, e te penetra
dentro de um cinema, subitamente.

E as memórias escorrem do pescoço,
do paletó, da guerra, do arco-íris;
enroscam-se no sonho e te perseguem,
à busca de pupíla que as reflita.

E depois das memórias vem o tempo
trazer novo sortimento de memórias,
até que, fatigado, te recuses
e não saibas se a vida é ou foi.

Esta casa, que miras de passagem,
estará no Acre? na Argentina? Em ti?
Que palavra escutaste, e onde, quando?
Seria indiferente ou solidária?

Um pedaço di ti rompe a neblina,
voa talvez para a Bahia e deixa
outros pedaços, dissolvidos no atlas,
em País-do-Riso e em tua ama preta.

Que confusão de coisas ao crepúscolo!
Que riqueza! Sem préstimo, é verdade.
Bom seria captá-las e compô-las
num todo sábio, posto que sensível:

uma ordem, uma luz, uma alegria
baixando sobre o peito despojado.
E já não era o furor dos vinte anos
nem a renúncia às coisas que elegeu,

Mas a penetração no lenho dócil,
um mergulho em piscína, sem esforço,
um achado sem dor, uma fusão,
tal uma inteligência do universo

comprada em sal, em rugas e cabelo.

Bate-bola com Marcelo Diniz


Marcelo Diniz é autor de Trecho (Aeroplano/Fundação Biblioteca Nacional, 2002), Cosmologia (7Letras, 2004). Além de poemas, escreve letras de canções sempre em parceria com Fred Martins. É tradutor e professor de Teoria Literária na Universidade Federal do Rio de Janeiro.



Diniz vai lançar no próximo dia 28 o livro de poema +1, pela TextoTerritório. 


Confira a seguir o Bate-bola do autor com o nosso Blog.




sexta-feira, 22 de novembro de 2019

4 canções de Rogério Batalha


Inauguramos hoje nossa base de áudios na SoundCloud com 4 canções de Rogério Batalha

O autor escolhido para presentear os sócios do Clube do Livro em Dezembro inaugura nossa conta na Clound Soud, com 4 canções, 3 delas inéditas.


Os leitores do clube receberão os três últimos livros do autor.

Poeta e letrista, Batalha é parceiro de Agenor de Oliveira, Gerson Conrad, Maurício Barros, Mauro Sta Cecília, Moacyr Luz, Nilson Chaves, entre outros. Com músicas interpretadas por Frejat, Humberto Effe, João Cavalcanti, Moacyr Luz, Nelson Sargento, Ney Matogrosso, Viviani Godoy, entre outros. Autor de livros de poemas prefaciados por Antonio Cícero e Waly Salomão. Seus últimos livros foram publicados pela editora Texto Território: A medida do sal, Inventário, Cidade Fundida, Exercício de Nuvens, Azul e Hérnia. (Compre os livros aqui)

Ano passado também lançou, com Agenor de Oliveira e Mauro Santa Cecília, o álbum Hoje o dia raiou mais cedo

Confira a seguir 4 canções de Rogério Batalha e parceiros, que postamos na Cloud Sound.

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Um inédito do livro "+1", de Marcelos Diniz

No próximo dia 28, lançaremos o livro +1, de Marcelo Diniz.
Confira a seguir um poema inédito, do livro.



você já percebeu somente em vê-lo
que o que se lê é só +1 soneto
feito num mundo dele tão repleto
que tanto fez fazê-lo ou não fazê-lo

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

"Moços, digam não à censura", crônica de Carlos Augusto Corrêa

Moços, digam não à censura

Carlos Augusto Corrêa

Lucas CRANACH - (1472-1553)
Queima dos escritos de Jan Huss diante de um príncipe

Quem escreve aqui vem de longe, lá dos anos 60, e ainda novo aprendeu a rejeitar um golpe de estado, o de 64, e mais tarde, o de 69, que durou duas décadas. Foram duas décadas de regime forçado, de prisão de nossa consciência em nome de uma "democracia" que bem poderia ser vendida em farmácia com receita de laxante.

"Sou negr@", poema de Vilma Costa

Sou negr@

Vilma Costa

Cunca Bocayuva

Lá fora a vida pulsa
em mil atabaques
Sou negr@
tenho a proteção dos orixás
sou negr@

20 de novembro de 2019

Charge de Latuff sobre o genocídio da população negra

“Essa agressão de um policial militar, que por acaso também é um parlamentar, contra uma charge exposta no Congresso Nacional e que denuncia a violência policial, nos leva a seguinte reflexão. Se fazem isso contra um cartaz, imagine contra gente de carne, osso e pele negra!” (Carlos Henrique Latuff)

Saiba mais aqui.

A razão periférica, poema de Cândido Rolim

A razão periférica

Cândido Rolim



Esses só
vistos
quando e onde
invisíveis

Esses ausentes
estofos da
razão que os
alveja

Esses que
por motivos bem
diferentes
nascem

Do livro Sutur.




terça-feira, 19 de novembro de 2019

Noturno da janela, de Claudia Chigres

Noturno da janela

Claudia Chigres

Edward Hopper

I

Corpos repousam em desconcerto. Pernas sobre pernas úmidas, braços-vigas moldam a superfície densa e fluida da noite. A distância das carnes ensaia em sigilo memória deserto linguagem vertigem. O sangue sono convertido em argamassa cal mármore de onde emerge o líquido da vida.


II

O som distante das águas lava um rosto levemente salgado. São apenas olhos de neon que vazam desejos, debruçados no agudo quadrilátero do quinto andar. Olhos luzes espelho vidro expelem ferro derretido, fuga fuligem. Olhos ondas que simulam o trânsito, movendo-se em lenta desarmonia na algema de aço concreto e pó.

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Uma caixa, poema de Franklin Alves Dassie

Franklin Alves Dassie foi colocado em destaque no Bate-bola com Ana Paula El-Jaick. Confira aqui um poema de seu livro Grandes mamíferos, escolhido pelos editores do blog.

Venezuelanos viajam em caminhão entre Peru e Equador. Foto: Juan Vita
https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/1620862246614929-o-ano-dos-imigrantes#foto-1620862246931951

Bate-bola com Ana Paula El-Jaick

Ana Paula El-Jaick é autora dos livros ''Faz duas semanas que meu amor'' (Editora Summus, 2008), ''Tríptico'' (Edições Macondo, 2017) e Há um colete salva-vidas embaixo do seu assento (TextoTerritório, 2018). 




Confira aqui o bate-bola da autora com o Blog da TextoTerritório



domingo, 17 de novembro de 2019

Sangue bão, Carlos Augusto Corrêa

Sangue bão

Carlos Augusto Corrêa 


https://pt.wikipedia.org/w/index.php?curid=2941674

Faz mais ou menos umas duas décadas eu ainda cortava o cabelo ali na rua do Catete num salão remediado. Meu cabeleireiro, o José, cara sobretudo paciente com meu cabelo que mais parecia uma juba ( ao contrário de hoje), me cortava a tal juba. Nisto notei pelo espelho que o próximo freguês, sentado quase atrás de mim, era um já sessentão calado, aparentemente de hábitos simples. Ele tinha as mãos cruzadas sobre as pernas e a cabeça baixa em ar por demais pensativo. Lembrava alguém do interior, apesar da roupa discreta e luxuosa.

De repente pus de lado minha distração, fixei o olhar e descobri: quem ali se sentava era ele, o poeta João Cabral de Melo Neto. De imediato tive vontade de interromper o corte e ter uma conversinha, não de pé de "oreia", mas uma fala rápida, só pra respirar o clima de estar diante da grandeza de um poeta do gênero. Meu jeito arredio, como sempre, funcionou pra me atrapalhar. Olhava pra ele, e José continuava, olhava de novo, e o cabeleireiro... Quis lhe perguntar qual tinha sido a sua experiência ao escrever "Educação pela Pedra". Não perguntei. Fui me enchendo de ansiedade até que me voltei pra José e falei:

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

DECRETO-LEI N° 4457, de Cesar Cardoso

DECRETO-LEI N° 4457
Dispõe sobre o jogo do caxangá e dá outras providências.

Cesar Cardoso


“Les Bourgeois de Calais”, Auguste Rodin


O Presidente da República, usando das atribuições que lhe confere o parágrafo 1° do Art. 2° da Constituição Federal, decreta:

Art. 1° Comete grave infração contra a pátria e seus símbolos o escravo de Jó que:
 
I – For pego jogando o caxangá ou incite a realização de tal jogo;

II - Pratique atos destinados à organização do citado jogo, tais como tirar, botar ou deixar o Zé Pereira ficar.

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

"Arroz, Feijão, Saúde, Calor e Ela", conto de Cynthia Magluta

Arroz, Feijão, Saúde, Calor e Ela 

Cynthia Magluta 


Ai, que frio! 

Porque foram me tirar de lá? 

Ouvia sempre essa voz, cantando, falando comigo. 

Mão quentinha, gostoso. 

Porque me tiraram de perto dela? 

Cansado. 

*  *  * 

Quanta luz! 

Pelo menos nessa caixa está quentinho, mas seco. Até que gosto, mas é bem mais duro. Quanta coisa grudada em mim, difícil me mexer. Muitas caixas com bebês, mão de borracha por todo lado e cadê ela? Acho que aquela garota está falando comigo. Ah, acho que entendi, quer saber como estou, se o frio já passou? 

- Melhor. Mas estou com uma fraqueza. Sabe de onde vem? 

- Quem mandou nascer no sábado de tarde? 

terça-feira, 12 de novembro de 2019

A coisa pública, crônica de Carlos Augusto Corrêa

A Coisa Pública 

Carlos Augusto Corrêa 

(Publicado no Facebook em 22/10/2019)

Semana passada, no Blog da Texto Território, que, diga-se, tenho lido diariamente, vi notícia interessante. É que Alexandre Faria e Oswaldo Martins sugeriram que cronistas, contistas, romancistas e ensaístas enviassem pro Blog textos sob o título "A coisa pública". Vão fazer uma seleção e irão publicá-Los em torno de 15 de novembro. 

domingo, 10 de novembro de 2019

"Cura Gay!? Que Horror!", crônica de C

Cura Gay!? Que Horror!

Carlos Augusto Corrêa


Foto: FosFlorescências, de Carolina Bezerra.
Estamos fartos,- sim, me incluo, e muito, nessa lista - de tanto preconceito. Quer dizer, então, que um Juiz do Distrito Federal autorizou a chamada"cura gay"? É!? Era só o que faltava. Mais uma vez ouvimos essa estória de que o gay é anormal ou fora da ordem ou fora de que outra classificação malpreconcebida.

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Manto eminente, resenha de Lúcio Autran

MANTO EMINENTE – Oswaldo Martins e Arthur Bispo do Rosário – os aedos desencantadores das palavras – ou “os planos da arte”.

Lúcio Autran

(Resenha do livro manto, de oswaldo martins, publicada originalmente no Blog de Lúcio Autran, em 07/11/2019)
“a voz na falha das mãosos lenho-laçosos fios
os planos da arte”
sianinha – Oswaldo Martins

Ao menos para mim, é muito difícil fazer da loucura objeto da poesia, aliás, mais do que isso, difícil falar da loucura, poeticamente ou não. Tudo nesse assunto é estigma, até porque quem vivenciou alguma forma de... e aqui o problema se evidencia, como chamar a “loucura”? Doença mental, alienação? E seu sujeito, doido? Ou, carinhosamente, que por vezes é possível, principalmente nas lembranças mais remotas da infância, doidinho?

Melhor nomeá-lo assim do que apedrejá-lo ou dele rir, ou cuspir-lhe a face transtornada, pois a loucura nada tem de lírica, muito menos de divertida, ao contrário, ela dói, rasga de angústia seu portador e os que com ele convivem, pois a sociedade, se melhorou no trato com ele, foi muito pouco, e ainda está presente em nós, navega no nosso preconceito, a “Nau dos Insensatos”, o escondê-lo na vergonha dos segredos da família, medo talvez de que sobre nós recaia o fatal estigma, como certa vez arrisquei: “No fundo das grutas, esperando adormecerem / os filhos e os vizinhos, para saírem pelos fundos. / Como a nudez, é melhor escondê-los nas serras / de Barbacena, ouro podre do limite das grutas”.

É o medo de um estigma infelizmente ainda presente, pois quem, como dizia e as palavras me fizeram desviar, conviveu com alguma forma de loucura sabe como é tênue a membrana que separa a doença de uma suposta, e apenas suposta, “normalidade”, citoplasma mental.

Mas toda sinonímia é precária, senão impossível. Qual a abordagem possível da loucura, se mesmo a abordagem “científica”, médica, ainda padece de irremediáveis precariedade e desconhecimento, salvo, aberta e honestamente, confessar esses mesmos desconhecimento e precariedade?

Talvez a poesia seja a única forma possível, pois permite a desconstrução, permite a (in) significação, o (não)significado, o desprezo ao significante, a partir do estigma / enigma onde o encarceram.

Como reconstruir a linguagem dos loucos? E o chamemos assim, por estranho que pareça, pois ainda acho “louco” a palavra de menor força estigmatizante. Como nos aproximar de sua sintaxe, que sintaxe é essa e como se recria no nada?

Pela janela, poema de Vilma Costa

Pela janela

Vilma Costa

Foto: Guilherme Landim

Final de tarde engana a gente
com suas brisas frescas e seus chuviscos insistentes.

Pensamento voa em espiral
como o tempo do amor e da saudade
pela janela do terceiro andar
avista-se a rua aos pedaços.

Um canto de pássaro
é a voz que não cala
há promessas de grandes encontros
e ameaças de morte à bala.
.
Um quadro emoldurado por onde passam
como as águas agitadas de um rio
ou personagens de um filme de Carlitos:
lágrimas, pregões, sorrisos e suspiros
de um povo apaixonado
e aflito.

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Dois poemas, de Elesbão Ribeiro

Dois poemas

Elesbão Ribeiro

Romeu e Julieta, Frank Dicksee

1

não digam por aí 
que faço versos
hão de pensar que sou poeta
e que não aprendi a amar






2

foi ver a vida lá fora
nunca mais voltou




02/11/19
elesbão ribeiro, versos roubados

Hoje no Rio: Lançamento de "Uma espécie de cinema"


UMA ESPÉCIE DE CINEMA: ANTOLOGIA DE POEMAS PORTUGUESES E BRASILEIROS, publicado pela Editora Oficina Raquel.
Antologia organizada pela Celia Pedrosa (que estará na leitura), Franklin Alves Dassie, Joana Matos Frias, Luciana Di Leone, Luís Miguel Queirós e Rosa Maria Martelo (Rosa Martelo).

Elesbão Ribeiro, participa dessa antologia com o poema "Cinemateca", do livro Estação Piedade (2013).







terça-feira, 5 de novembro de 2019

Laura Assis lê "Antiode para Ray Bradbury", de Alexandre Faria

Antiode para Ray Bradbury

Alexandre Faria




Neste vídeo a poeta Laura Assis lê a "Antiode para Ray Bradbury", de Alexandre Faria. Um dos aspectos do projeto que envolveu a Oficina de Antiodes foi a possibilidade de recriação e derivação a partir das obras originais. Acompanhe a leitura com o texto original e perceba os acréscimos de Laura Assis.




I

talvez porque aqueles
de quem outrora aprendi a brigar por liberdade
de quem outrora aprendi o valor da lucidez
de quem outrora aprendi a vida dos livros
de quem outrora aprendi paz e amor

talvez porque aqueles estejam hoje descansados septagenários
talvez porque estejam mesmo em casa guardados por deus contando o vil metal

talvez porque apenas estejam sem rumo desde quando o muro caiu

talvez porque hoje apenas redijam pequenas notas interprerativas para as efemérides do muro que caiu

talvez porque deem curtas declaraçãoes sobre o muro que caiu como a um repórter inconveniente que pergunta por um amigo que morreu

talvez porque preencham formulários e panegíricos
e talvez porque preencham formulários e panegíricos sejam chefes, diretores, presidentes
do clube da seção e da nação

talvez porque tenham se espantado um pouco quando o segundo avião acertou o wtc

talvez também porque tenham tremido um pouco quando o segundo avião acertou o wtc
e se lembraram de um dia com as crianças ou com a namorada ou com as crianças e com a namorada das moedas que depositaram nos binóculos automáticos para curtir o panorama de manhattan do topo do wtc

ou ainda porque talvez acreditem nos tempos de hoje tempos com democracia (?) e wall street e tenham sido mais duros (não o nego) aqueles dias

ou talvez ainda e finalmente porque
reza
a lenda
incendiário
aos 20
vira
bombeiro
aos 50.

velhos decrépitos que se prevalecem da mitologia neoliberal
matusaléns que se tornam tios e tias e fazem valer o politicamente correto
ex-drogados, ex-fumantes que se se viciam em enalapril e sildenafila, que viram crentes e leem a bulabíblia dos deuses de pfizer e bayer


talvez por vocês, a Antiode
talvez por vocês, a Antiode
talvez por vocês, a Antiode




II

mas por enquanto os jovens da uniban chamam puta a menina de minissaia
e não sabem quando dizem - puta! assim com inflexão ofensiva
é na própria mãe que pensam
quiça na própria virgem

mas por enquanto jovens prefeitos e governadores e secretários de educação aquiescem ao conservadorismo de pais e filhos
o conservadorismo retrógrado de pais e filhos que não leem
o conservadorismo puritano de pais e filhos que gostam do ratinho e do povo na tv
o conservadorismo retrógrado de pais e filhos que vão para a imprensa exigir que prefeitos governadores e secretários vaquinhas de presépio incapazes de implementar políticas de educação queimem
o livro do ferréz
o livro do teza

mas por enquanto jovens padres cantores e jovens pastores semiletrados estão vendendo indulgências aos crentes sem fé que povoam o mundo
e leem o mago
e leem o bruxo
e leem o vampiro

e por enqunto os meninos da mangueira trocam o pandeiro e a cuíca
trocam o beat box e o grafite
trocam o livro e o caderno
pela vida de altos executivos da narcoeconomia, o trabalho árduo de incendiar ônibus e a vida curta
com nike original
lambreta
e cocota a tiracolo

e por enquanto os garotos de 20 da usp e da puc não demonstram saber
quem
onde
como quando e por que
incendiar.

esperam todos encontrar em breve os malditos bombeiros que empunharão lança-chamas.

18/01/2010

domingo, 3 de novembro de 2019

"Olá, Irmãozinho", crônica de Carlos Augusto Corrêa

Fotograma de um filme inédito, de Felipe David Rodrigues

Olá, Irmãozinho

Carlos Augusto Corrêa


Agora há pouco, assistia a um documentário sobre 68 e me lembrei muito de você, Comprido. Durante aqueles anos de resistência, foram quase três, e os piores da repressão, tivemos uma convivência de princípios sólidos.

Mesmo novos (você um guerrilheiro vivendo integralmente a luta política, eu, um candidato a), já tínhamos uma responsabilidade acima do comum, e sabíamos que a qualquer hora podia acontecer a nós algo mais grave. Fomos cultivando esses princípios de solidariedade, de ajuda mútua, de respeito às classes populares, esses e outros traços eram uma espécie de muralha interior que conquistamos e que nos ajudava e ajudaria contra os piores reveses. Quantas vezes pensamos que o cafezinho bebido cuidadosamente ali num barzinho do Passeio Público, o Angrense, podia ser o último da vida.

Pois é, me lembrei fortemente de você. Nós construímos no início da mocidade bons laços de companheirismo, dia após dia, de encontros e debates e planejamentos, lembra?, construímos no calor da luta uma amizade que prometia ir se solidificando pelos anos. Sua prisão interrompeu este ciclo e há quase cinquenta anos não mais nos vimos.

Queria saber como transcorreu sua mocidade, como você atravessou a Nova República e depois os governos civis. Construiu família, filhos, Comprido? Exerceu a medicina? Continuou a militância no partido ou fora dele, em sua profissão? Há uns dez anos vi uma declaração sua denunciando um delator que queria reparo aos falsos danos morais que teria sofrido em plena ditadura. Então senti que suas ideias se mantinham.

Estou certo de que você manteve algo que caracteriza o homem essencial, que é a dignidade. Aliás, a sua coragem ao resistir à tortura aumentou em todos os seu amigos a dignidade que você passava.

E é por isso que não só me lembrei de você agora. Tenho me lembrado volta e meia quando nossa população, inconformada, se manifesta contra os sucessivos desmandos. E vou continuar me lembrando até essa minha voz rebelde parar de existir. Saudade, companheiro.

Hoje, em Volta Redonda: Chabu, Rebute e Rapace de André Capilé



Confira neste Blog:

sábado, 2 de novembro de 2019

Fotografismo - Entrevista com Rute Gusmão

Fotografismo, arte da capa do livro Anacrônicas

Entrevista com Rute Gusmão


Nesta entrevista apresentamos o trabalho de Rute Gusmão, artista plástica, poeta e escritora, autora de Moldura da pele e Sapatilha no descampado, pela TextoTerritorio e Contos de Oficina, pela Editora Scortecci.


TextoTerritório: Como nasce o seu interesse pelas artes plásticas e quando e por que resolve incluir a literatura como forma de expressão? 

Rute Gusmão: Meu interesse pelas artes plásticas nasceu junto com o interesse pela literatura. Durante o curso Científico no CAp da UFRJ, orientada pela professora de português Terezinha Pinto, passei a ler autores brasileiros e latino-americanos. Ela levava poetas e prosadores para debates com os alunos, inclusive nos apresentou a Manuel Bandeira, já idoso. Comecei a escrever versos influenciada também pelos poetas que publicavam nos Cadernos do Povo Brasileiro (Violão de Rua), divulgados pelo Centro Popular de Cultura da UNE. Influenciada pela poesia dos Violões, publiquei meu primeiro poema no jornal do Diretório Acadêmico da Escola de Serviço Social da PUC/RJ, onde estudei.

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Vem aí: ANTIODES, de Alexandre Faria e Oswaldo Martins

Vem aí: Antiodes, 

de Alexandre Faria e Oswaldo Martins


A Oficina de criação TextoTerritório lançou, há 10 anos, o projeto Antiodes. A primeira Antiode, para Gisele Bündchen, criada a partir de uma observação do poeta Elesbão Ribeiro, foi publicada 29 de março de 2009, no antigo site textoterritório.pro.br, quando não havia ainda editora. 
Em comemoração, a editora TextoTerritório está lançando uma edição única e limitada, com 50 exemplares, de um livro com todas as Antiodes de Alexandre Faria e Oswaldo Martins, com prefácio dos autores.

Convocatória

Envie seu texto para Blog da TextoTerritório - "Erotismo e saúde"

  Milo Manara - Enfermeira Envie sua participação sobre o tema "Erotismo e saúde" para o Blog da TextoTerritório. Milo Manara - Nã...