sábado, 23 de março de 2019

Conheçam Hérnia, novo livro de Rogério Batalha


Hérnia, de Rogério Batalha
à venda na editora 
Sempre que um grande poeta lança novo livro, as antenas da leitura devem se abrir, pois o leitor será confrontado nas suas certezas maiores. Hérnia, de Rogério Batalha, em prosa poética, fala da dor, do deslocamento provocado pela dor; “já que a vida espalha um monte de espinho por aí pra ver se a gente acorda”, o leitor, partícipe desta dor, deve percorrer as vértebras todas da invenção e recolher seus cacos até o limite das possibilidades abertas sobre o mundo, para que aprenda a resistir.

Hérnia, quando a vida se apresenta e arde, estertora, rude. Hérnia, quando a vida se apresenta numa horizontalidade tal que o surto se torna inevitável. Hérnia, quando os muros se criam fechando a verticalidade da linguagem e suas seleções ficam restritas e as combinações têm de dar tratos à bola para que ainda assim possam os poetas – e os leitores – perceberem o brilho que de toda forma a potência da vida ainda guarda. Hérnia, quando a luta se torna necessária. Hérnia, quando os tempos dos tenazes, da unha arrancada retornam. Hérnia, enfim, quando as pessoas necessitam de rugir como leões e vociferar contra os domadores que – no circo armado – as atacam.

A dor íntima se transmuda em dor universal, a sandy-amulatada, o eros-amputado, a pobreza-mãe, todos, que somos nós com nossas histórias, devem “ter lá seus habeas corpus”, contra “a condução coercitiva da vida”. Uma receita que se avia contra a dor permite que de insônia em insônia eliminem-se as tocaias da dor, mais que as receitas prosas dos médicos de plantão, dos poetas românticos com suas dores em falsete. A dor de Hérnia – ou da hérnia – pressupõe limites.

Os limites da dor em Rogério Batalha possuem uma dobra que não deixa o leitor se restringir a uma única percepção, a um gritar inútil e desesperado, mas se arma até os dentes para atingi-los no cerne mesmo das concepções da vida e construir a partir da reativa capacidade de coagir o desespero e a angústia, até que deles faça brotar um baobá, a ancestralidade das raízes profundas, que em sua poesia costuma chamar sagacidade.

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