Hérnia, de Rogério Batalha à venda na editora |
Hérnia,
quando a vida se apresenta e arde, estertora, rude. Hérnia, quando a vida se apresenta numa horizontalidade tal que o
surto se torna inevitável. Hérnia,
quando os muros se criam fechando a verticalidade da linguagem e suas seleções
ficam restritas e as combinações têm de dar tratos à bola para que ainda assim
possam os poetas – e os leitores – perceberem o brilho que de toda forma a
potência da vida ainda guarda. Hérnia,
quando a luta se torna necessária. Hérnia,
quando os tempos dos tenazes, da unha arrancada retornam. Hérnia, enfim, quando as pessoas necessitam de rugir como leões e
vociferar contra os domadores que – no circo armado – as atacam.
A dor íntima se
transmuda em dor universal, a sandy-amulatada, o eros-amputado, a pobreza-mãe,
todos, que somos nós com nossas histórias, devem “ter lá seus habeas corpus”,
contra “a condução coercitiva da vida”. Uma receita que se avia contra a dor
permite que de insônia em insônia eliminem-se as tocaias da dor, mais que as
receitas prosas dos médicos de plantão, dos poetas românticos com suas dores em
falsete. A dor de Hérnia – ou da
hérnia – pressupõe limites.
Os limites da dor em
Rogério Batalha possuem uma dobra que não deixa o leitor se restringir a uma
única percepção, a um gritar inútil e desesperado, mas se arma até os dentes
para atingi-los no cerne mesmo das concepções da vida e construir a partir da reativa
capacidade de coagir o desespero e a angústia, até que deles faça brotar um
baobá, a ancestralidade das raízes profundas, que em sua poesia costuma chamar
sagacidade.
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