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Muitas vezes busca-se na arte o instante do desastre, confundindo-o com o trágico. Esquecem-se os parvos de espírito de que o trágico em si é uma suspensão do tempo, quando as suas três instâncias convergem ao reuni-las em uma única percepção. Alguns, como Fernando Pessoa e Machado de Assis, por exemplo, sabiam disso e por conta de o saberem criaram obras universais.
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Nas artes, a medida da ironia é mais eficaz em produzir a compreensão do inefável que a seriedade dos desastres. O desastre serve para reafirmar a percepção moral do caldo cultural a que se está ligado, reafirmar o medo do desconhecido, para construir armadilhas e criar uma prisão da qual não se consegue desligar. O que seria do Madame Bovary sem a besta do Dr. Charles? É preciso aprender a rir com Flaubert, para entender o aspecto trágico a que a civilização humana se encaminhava. O suicídio por dívidas denuncia esta civilização, o que deve fazer com que dela se ria.
3
Do riso, o melhor é o torto.
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Nas Bacantes o filho ter cortado a cabeça da mãe só cumpre seu efeito caso se entendam as ironias dos deuses. É preciso devolver aos deuses o riso. Se eles riem, que deles se ria. É por isso urgente rir dos pretensos deuses, aqueles deuses medíocres que se enfaram de poder e por ele vigiam e punem. É preciso rir dos pretensos deuses. É preciso rir dos juízes que se arvoram deuses. É preciso rir para desmascará-los.
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É preciso rir do Moro e de seus comparsas.
(oswaldo martins)
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