sábado, 30 de novembro de 2019

Edipiana, de Elesbão Ribeiro

Edipiana

Elesbão Ribeiro


para  jorge jesus, que ele nunca jogue fora a nossa roda

Paula Rego: Primeira missa no Brasil

A dona Eunice não era uma mulher bonitona, era uma mulher bonita, miúda, bem ajeitada. Eu gostava mesmo era do perfume da dona Eunice. Ainda hoje sou capaz de reconhecer o seu perfume, Instituto de Educação. Cheirava bem, a dona Eunice.

Com seis anos de idade, por ainda não saber o que é namoro, eu só desejava que a dona Eunice fosse minha mãe. 
Pois não é que um dia, vejo a minha mãe ofegante e cansada pela ladeira que subira, na porta da sala de aula.

Fora convocada para ouvir queixas que a dona Eunice tinha a fazer de mim. Não me lembro dos desdobramentos que isso teve.

Entre os anos de 1952 e 1956, na Medeiros de Albuquerque, escola que frequentei, no Engenho Novo, contou em aula, a senhora dona Eunice a seguinte história: os portugueses usavam rodas quadradas em suas carroças, quando as rodas se tornavam redondas depois de tanto… tanto… os portugueses as jogavam fora. 

Não creio que a senhora dona Eunice tenha chamado a minha mãe para lhe pedir desculpas, por essa história que ela me fez ouvir.

E também, a dona Eunice nunca me fez um afago.

elesbão ribeiro, relatos mais pequenos sobre coisas miúdas, 53

11/09/14 e 20/11/19

Um comentário:

elesbão disse...

O Delfim, primo da minha mãe, foi à escola que a filha frequentava queixar-se por essa mesma história que ela ( nascida no Brasil) teve de ouvir. O Delfim é aquele primo da minha mãe que se apresentou ao cônsul ou embaixador cubano com o propósito de ir para Cuba. Ainda não era hora.

Convocatória

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