Goya
Quando um deputado propõe a amputação das mãos de corruptos, quando uma ministra ou secretária (seja lá o que for isso) da cultura diz que cultura é pum soltado por um palhaço, quando o presidente distribui bananas, inverdades e se fantasia de palhaço em encontro com jornalistas, quando um pseudo-filósofo dá palpites e acena com sua verbosa ira de má catadura, quando a economia desanda cada vez mais, quando se recebem as bençãos ladinas do “grande irmão” e a plateia encantada aplaude e pede bis, todo o esforço de construção da nação se faz água pútrida, barrenta e envenenada.
Os beócios da nação sonham com o velho oeste, com o heroísmo de arma em punho e com moçoilas atentamente postadas para entrarem em cena como grandes damas do século XVIII, oferecendo brioches a quem se alimenta de ratos ou do vírus virulento da incapacidade de pensamento.
Edificam o sertanejo universitário, formado pela má universidade da música, como se fosse a identidade do país profundo e não a jogada de marketing mais descarada para vender incapacidade e silêncio, incapacidade e o infindável repetitório da mesmice irretocável, da modernidade irreprochável da burrice. Edificam maus atores, maus autores – todos presos à jogadas da propaganda, da venda fácil do lucro certo – como se fossem cada um deles o último canastrão de Hollywood ou o último gênio do estilo americano de vida.
A sutileza tem sido varrida para debaixo do tapete, a ironia alegórica dá lugar aos vaporosos traques das comédias ligeiras do besteirol, a construção de sentido aponta para sentidos já prontos para consumo rápido e eficaz dos atuais donos do poder, a justiça é encenada levianamente para se vender barata às portas das ocasiões.
E não bastasse toda essa mixórdia, ecoa o riso alucinado de satanás, que, como um sonho dantesco, condena a nação ao precipício e ao caos.
(oswaldo martins)
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