sexta-feira, 22 de maio de 2020

Paisagem noturna, poema de Jorge Wanderley

Paisagem noturna

Jorge Wanderley


Jorge Wanderley (foto: Francisco Manhães)




Hoje não posso dormir
porque os passarinhos fazem voltas em torno da minha cabeça
e quando procuro o travesseiro
aumentam sua algazarra de protesto.

Sentado na cama, verifico
que lhes sobra mais espaço para as asas
e o voo se torna largo,
oceânico;
e ficam menos numerosos.

Na realidade vejo que diminuem muito
até que agora somente um
(plano e branco)
percorre majestoso um céu sem nuvens
e já não tem pressa, nem canta.

Seu nome é Silêncio, tem compasso lento,
e seu corpo tende para o infinito dos mares;
é ele quem leva a palavra à linha distante,
a palavra que não dirá como quem ordena
ou como quem pede.

Depositará, apenas, quando chegado
à raiz do tempo, no joelho do horizonte,
seu minúsculo verso:

 "amanheça".


JORGE WANDERLEY(Recife, 1938- Rio de Janeiro, 1999)

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