Cadê meu Amigo Affonso?
Carlos Augusto Corrêa
Tenho andado por essa cidade tensa e não encontro Affonso, o Romano de Sant'Anna. Cadê meu amigo? Olhe que circulei por Ipanema, ali perto da Nascimento Silva onde noa encontramos algumas vezes. Passei pela Senador Dantas, parei um pouco naquele trecho que dá pro Passeio Público. Não tenho encontrado o poeta.
Funcionasse ainda o JB. na Avenida Brasil e o localizaria ali, sempre gentil e sorridente. Foi assim que vi e vejo meu amigo.
Como não o tenho encontrado, resolvi me lembrar dele pegando umas linhas poéticas de sua obra. Quem sabe elas podem compensar a sua ausência? Mais: quem sabe podem ainda interessar aos novos leitores?
Vejam a simplicidade madura (ser simples não é fácil) com que fala da mulher:
"Ali está uma mulher madura, mais que nunca pronta pra quem a souber amar".
É preciso olho de poeta pra enxergar desse jeito a mulher.
Olhem isso:
"O corpo é/onde é chama".
Ou ainda essa reflexão sobre a sua linguagem que deve interessar a muito escritor moço:
"Debaixo de minha escrita/ há sangue em lugar de tinta/ - e alguém calado que grita".
Afonso faz uma confissão ao se tornar quarentão. Uma boa lição pra quem adentra essa idade sentindo-se um mestre na arte de amar que nem eu. E foi vendo linhas assim e vivendo muito, que passei a aprender mais sobre o assunto.
"Estranho/ que depois dos 40/ esteja aprendendo/o que é o amor".
Ao final dessa conversa me sinto satisfeito pela lembrança dos poemas. Deu ainda grande vontade de me sentar à mesa com o poeta em um barzinho da cidade. Infelizmente meu texto não conseguiu abrandar essa vontade. Ao contrário, ele a aumentou.
Um comentário:
Tenho saudade de Affonso. Ele teve momentos de muita solidariedade e estima comigo. Jamais me esqueço dele.
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