Lincoln Bicalho Roque |
Outro dia, um moço me perguntou se eu conhecia a Escola Municipal Lincoln Bicalho Roque. Disse a ele que não, mas que eu conhecera bem o Lincoln, companheiro mais tarimbado, que conheci em 1967 lá na antiga Faculdade Nacional de Filosofia, depois UFRJ. Eu estava entrando na Faculdade, e ele já concluía o curso de sociologia.
Fiquei comovido ao se tocar no nome da escola, primeiro pela homenagem - justíssima - e segundo, pelo grande companheiro de resistência contra a ditadura. Magro que nem eu, ele desde os primeiros contatos chamava atenção por sua fala mansa e lenta. Mas, ao mesmo tempo, demonstrava
uma convicção, típica da força de seu caráter. Falava daquele jeito e quem não o conhecia imaginava tratar-se de alguém ligado a uma filosofia oriental por sua aparente mansuetude. Lincoln era duro de roer, de uma firmeza de propósitos. Aliás, ele demonstrou esse detalhe em sua última prisão, quando contam que foi cruelmente torturado até a morte - e nada revelou.Eu conversava com ele nos corredores da faculdade ou na rua, ali na Antônio Carlos. Por vezes ele passava apressado e não me olhava de propósito por estar em contato com pessoas mais visadas.
Eu era um moço que, além da participação nas lutas estudantis de meu tempo, vivia lendo os textos fundamentais do marxismo e, tão logo lhe revelei o fato, mereci dele um "isso, garoto, você está indo bem".
Sempre que podia, vinha falar comigo. "Como é que está indo, companheiro? Não pode parar." E eu não parava. E Lincoln sempre com aquela fleugma que contrastava com a sua participação política agitada. Chegou a ser membro do Comitê Central do PCdoB e relatam que participou da fundação do PCBR.
Fui apresentado ao Lincoln por um colega de ensino médio, o Hélio Alves Pinto, que mais tarde reencontrei na universidade. Pouquíssimas vezes via os dois juntos.
Lincoln teve destaque na luta contra o governo autoritário. O Cacá Diegues fez um documentário, intitulado "Oito Universitários", um dos quais se referia a ele de que volta e meia me lembro com uma ponta de saudade.
Professor do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ e sociólogo do SESC, esse grande companheiro que não mais vi quando entrou pra clandestinidade deixou uma lição de coragem e de forte personalidade.
O moço que me perguntou se conhecia a escola ouviu tudo atentamente o que falei sobre Lincoln e nem se interessou mais em ser informado a respeito da instituição. Ficamos conversando ainda um bom tempo e ele nem notou que nas quase duas horas de conversa os olhos desse setentão estavam devidamente comovidos. Comovidos, saudosos pra valer.
Um comentário:
Gostei do fiquei a saber.
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