Publicado originalmente em
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Primeira edição da Oficina TextoTerritório/IFF vira livro
Irene Kalil
“São
textos nos quais a arte de escrever e a arte de cuidar foram se ligando
e se construindo aos poucos”. Assim, os editores da seleção de poemas e
contos produzidos na primeira edição da Oficina de Criação Literária
TextoTerritório/IFF, realizada em 2011, definem a obra, repleta de
histórias comoventes vividas por 11 atores/autores envolvidos no
cotidiano do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do
Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz). A publicação, composta por
21 textos e belas imagens de autoria da fotógrafa Ana Marques, foi
lançada nesta segunda-feira (1º/10), na sede da instituição, no
Flamengo.
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A riqueza das múltiplas experiências de quem trabalha no instituto, que
há 88 anos atua em defesa da saúde materno-infantil, está presente em
versos e na prosa de autores, muitas vezes, improváveis, como ressalta a
psiquiatra do Serviço de Psicologia Médica Selene Afonso em sua
autoapresentação: “No início, duvidei que eu, ‘escritora silvestre’,
pudesse produzir, em forma e conteúdo, material que transmitisse as
experiências com meus pacientes”. Mas é a mesma Selene que, em A quentinha,
expressa com maestria como a relação entre médico e paciente é, antes
de tudo, uma ligação entre duas pessoas, que engrandece tanto uma quanto
outra.
Assim como ela, médicas, psicólogas, fonoaudiólogos, uma administradora, uma pedagoga, uma secretária e uma assistente social, funcionários ou voluntários do IFF, vão, pouco a pouco, demonstrando que, além de zelosos no cuidado das pessoas, são também capazes na escrita. Revelam-se escritores. A coordenadora do Núcleo de Apoio a Projetos Educacionais e Culturais (Napec), Magdalena Q. de Oliveira, por exemplo, assina três textos, um deles dedicado a contar a situação, vivida por ela, de levar crianças internadas no instituto à feira. Madá, como é conhecida, reconstrói todo o estranhamento vivido pelos pequenos, alguns deles que nunca haviam feito um único passeio na vida. Perguntas como “quem desenhou? [o céu com nuvens brancas]” desconcertaram a pedagoga como nos desconcertam, nós, leitores, transportados que somos pela força da literatura.
E a emoção transborda em diversos momentos da leitura, como em Quero um buraco para me esconder, de Antonio Carlos, que trata de uma mãe que, lutando com todos os recursos para poupar seu bebê de uma cirurgia delicada, faz cair por terra a intransigência do saber médico; ou em Cristina, escrito por Cynthia Magluta, que fala da inviabilidade da vida, sempre um desafio para a medicina, e do amor incondicional dos pais por sua filha, um bebê que já nasce sem chances de sobreviver.
Coordenada pelos escritores e professores Alexandre Faria e Oswaldo Martins, a Oficina de Criação Literária TextoTerritório/IFF, que iniciou sua segunda edição este ano, conta com o apoio da Diretoria de Recursos Humanos da Fiocruz (Direh) e do Centro de Estudos Olinto de Oliveira (CEOO). Segundo seus idealizadores, a atividade busca associar a prática da escrita literária às experiências significativas de vida, entendendo a arte como elemento constitutivo da sociedade e do próprio ser humano. É esse enlace genuíno entre o escrever e o cuidar que vemos pulsar na poesia de Ana Marques, ao se colocar no lugar do outro, a criança assistida, traduzindo seu desejo: “Cansei de sol fluorescente / Ar condicionado e vento entubado / Não aguento mais / Quero o calor do teu colo / A doçura da tua voz / Me pega e me leva / Vamos dar uma volta no pátio”.
Os interessados poderão adquirir seu exemplar da publicação no local
(R$ 10). A renda obtida com a venda será revertida para o Biblioteca
Viva, projeto que promove a leitura em todos os espaços do instituto.
Publicado em 1º/10/2012.
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