C1
A propósito, em tudo há um palco, na dor, todo o teatro. ela é um atlas. articula-se na base do crânio. não é uma poltrona vazia ou tampouco ausência de álcool moeda ou afeto. de modo que ela é um labirinto aceso. ela quando chega dilacera tudo. não é coisa de bicho nem planta. é um rasgo entre as vísceras o parto o salto e a esperança.
é quando uma hérnia se projeta de forma aguda, acentuada. espécie de objeto saído através de uma fissura ou orifício, de uma estrutura antes contida. ela é uma lesão no canto. um vazamento que pressiona o sonho o tempo todo. um incômodo permanente sobre a tinta sobre o mais vulnerável. é estar fora de si por uma unha um cisco encravado na alma. não pode ser mensurada senão pela própria dor. foi isso que ela me disse: sou uma espécie de osteoporose no seu peito.
levo escombros nos olhos. beijos carnívoros. aqui não tem verniz.
T7
Ela é punhal que só não mata a esperança. diga trinta e três. a fome dos homens é mola que dá em doido. a trama do tempo é essa. imoralidade é ver maçã no pé e nem aí. é dos calejados que falo. dos farrapos e dos que jantam estrume. sobre o cheiro das goiabeiras nas tardes de maio e dos acrobáticos que descambam por aí de olhos marejados. à cabeceira encontra-se um livro que diz que o tempo corre enviesado. diga trinta e três. o resto é sangue e saliva. aliás, sou uma soma quebradiça dessas substâncias tão distintas. tanto faz o perto ou o distante. nada está tão próximo assim. maquiagens e afins não nos servem de nada. fio por fio tudo esvai. no centro nervoso do comando respiratório. às vezes em conta-gotas ora em carradas. quem já viveu uma dor sabe mais da noite. sabe mais dos calos das hérnias dos partos.
L3
Interina nem ela, já que é brasa. continua lá? onde sobrevoa agora? impossível saber? em Juiz de Fora? no Rio? em São Paulo? em que quarto de hotel? repleta de esperanças? deu-se por fim sua gestação? foi só desventura? loucura? viagem atroz? decerto que já não se encontra tão somente na medula. então só resta saber: foi varrida para que beco? se explodiu num domingo azul em pleno Maracanã? é nos intervalos que a dor dos outros é sempre questão de paciência, pêndulo e húmos. o problema da dor mais do que a dor em si são seus silêncios. suas dobras. é que antes dela nem desconfiava o nome das rosas, das cerejeiras, dos homens e das solidões das noites de outubro. sem dar satisfação a ninguém é necessário seguir em frente. seguir os sem pátria, os sem rumo.
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