sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

pinta, poema inédito de oswaldo martins

pinta

oswaldo martins

poema inédito de oswaldo martis, parte integrante de um novo livro que está sendo criado



1

destino

na pensão de dona dorvalina,
ela a única maria da pinta

na parte traseira da coxa
ao quase iniciar-se da bunda

a marca do divino redunda
em desejo peixeira e trouxa


2
paisagem

os teréns a estrada
os pés vencidos

a rachadura a racha
a seca maria a quase

ossos divisa nos ouvidos
algo a insurgir como sertão



3
fazenda

gado e canto cavam
a terra o latifúndio

o assalto o estandarte
a bandeira do divino

beira a picada da carne
pelos casebres avistados


4
beata

a da pinta surrão e cajado
sobe as casas-céu

deslumbre e luz o branco
se abre rebrilham vozes

a quase taquara rachada
a quase reino repovoado


5
guerra

farda baiana a quase
serviço da república

trocam de lado no campo
da batalha o império

atado ao bom jesus
balança avança e recua

6
extermínio

ao arregaço das saias
lutam jagunças a horas

o hospital de sangue
até o último homem

até a última mulher
meninos e meninas


7
rio de janeiro

primeira encosta
entre a gamboa

e a lapa a pinta
e o cós da vida

mais próxima ao divino
maria sobeja


8
navalha

mexe que remexe
ao som do batuque

se triscam com ela
eis maria no corte

quem não atenta
vira gado aos picotes


9
picote

nenhuma é demasiada
maria troça o doutor

a barriga-dança cobra
e a sutil pinta alvoroça

o bolso a encastela
nos solares de laranjeiras


10
funk

maria-dorvalina a da pinta
em são cristóvão reina 

seu poder entre meninos 
e meninas no xaxado

que balança do xote ao funk 
a brida das bailarinas

(oswaldo martins)

Convocatória

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