Rembrandt
Num poema de 1992 que publiquei no livro oourodooutro disse isso que estou sentindo hoje de novo.
é uma quarta-feira
de cinzas
sem carnaval
tenho um tiro
e uma culatra
e um país que se amassa
como lata de cerveja
reciclável
Os vendilhões do país continuam os mesmos, aqueles cujas fuças não importa muito que mudem, desde que façam o serviço do capital especulativo, da mais valia liberal a custo da pobreza dos remediados, da miséria dos pobres e do extermínio dos miseráveis.
Mas de lá pra cá alguma coisa mudou. Antes era em silêncio que os remediados, pobres e miseráveis manifestavam seu apoio aos vendilhões. Um silêncio cínico, convenhamos.
Hoje é sem silêncio e, pior, com ódio.
Ódio a quê, mesmo? Ao PT? Bobagem. O ódio é aos fantasmas, sempre o ódio aos fantasmas. Os fantasmas dos comunistas, das mulheres, dos negros, dos estrangeiros, o fantasma, enfim, do outro, esse ouro com que ninguém quer apreender e enriquecer.
Quando esse ódio começou a ser insuflado, pela corja do PSDB, o derrotado Aécio e seus acólitos; pelos traidores do PMDB, o venal Cunha e seus chantageados do congresso; e pelos interessados nas indústrias da bíblia, do boi e e da bala - quando esse ódio começou a ser insuflado por todos eles e, é claro, com o apoio da grande mídia, Globos, Folhas, Vejas et caterva, ninguém sonhava a merda que ia dar.
Que está dando.
Nem sempre a panela de pressão estoura pela válvula de segurança. Muitos tiros saem pela culatra. E há palhaços que acendem o pavio e não ficam nem para ter a alegria de ver o circo pegar fogo.
Mas o Carnaval resiste, grita e põe o dedo na cara e na ferida e aponta caminhos na avenida.
Até quarta-feira.
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