domingo, 2 de fevereiro de 2020

Poesia, Poesia Mais Poesia Crônica de Carlos Augusto Corrêa



Poesia, Poesia Mais Poesia

Quanto mais ando, que bom!, mais poetas me aparecem. Mais escritores povoam essa minha pobre vida de escrevinhador. E nessas andanças - são mais de 50 anos  pensando em palavra escrita - reencontro Domingo González Cruz, poeta, bibliotecário, editor. Ah e não posso esquecer, AMIGO, que conheço desde 71 ou 72, sei lá, desde os tempos de Suplemento Literário da Tribuna da Imprensa.
Feliz reencontro esse! Domingo me presenteia uma coletânea poética sua, sob o título "Repouso". Nela, transcreveu poemas selecionados de sete livros, dos anos 70 a 2020. Uma caminhada pra atleta olímpico.
Sou um veterano leitor da "ars poetica". Apesar de gostar de variados tipos de poesia, tenho preferência por aquela que tenha como mensagem o compromisso com o seu tempo. Por isso, se me perguntarem com qual dos livros de Domingo você mais se identifica, não hesito em dizer: é o primeiro dessa coletânea, intitulado "Papel de pouso". É de 1976, época bem cabeluda, de muita resistência política e também poética aos anos autoritários. Ali os versos são instigantes, alguns irreverentes, como gosto mesmo. "Tenho como madrasta adotiva/ a sombra da Bomba Atômica/ Tenho como padrasto adotivo/o silêncio da Guerra Civil Espanhola".
A irreverência continua: "O ônibus cheira a traseira/ ultrapassada do KLM-5367".  Talvez um crítico esteticista malcheiroso esteticamente dissesse: isto é um lixo. Lixo coisa alguma; seria, isso sim, o protesto incisivo de quem escreve sobre a vida cheirando a suor.
Leiam aqui: "Tenho Espanha no sangue/ Brasil no coração ". Catei esses versos em "Herança". E vou pincelando ali, aqui o que me agrada deste poeta galego/brasileiro que sabe o que faz a essa altura dos setenta anos.
Bem, e os demais poemas desta coletânea? Evidente que me agradam. Todos com o mesmo nível de cuidado formal. Versos enxutos, nada circunstanciais nem levados por aquela emoção bocó de quem quer gritar fazendo poesia. Domingo, eu e outros tantos e tantões estamos fartos de saber disso. Apenas relatei minha preferência.
Meu amigo é um poeta preocupado não só com o destino social e político do homem. Ele se interessa também pelas questões relacionadas com o íntimo e, como bem afirma  Fernando Py,  o autor pratica uma arte de "funda inquietação existencial".
Fecho essa boa  coletânea poética agora, deixo seus versos nas páginas democraticamente fechadas e espero que outros abram, folheiem e se ponham a fazer uma leitura viva de seus poemas não menos vivos.

Um comentário:

Unknown disse...

Beleza. Ficou bonita a publicação.

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