Eugène Boudin |
1
navios emprestam ao seco sua quilha
de bailarina as viagens hão de desesperar
marinhagem e o albatroz descido
ambos esmoleres
ambos defuntos
pelo sulcar dos rostos das mulheres
impingem no desgrenhado dos cabelos
o sacrifício de ifigênia
2
a torre avista-se ao longe
tudo em mar desfralda-se
horizonte e bandeira rota
3
gaiola
a baía exsuda
a gritos
a exaustão
do vendedor
da amendoim ou pirarucu
(Oswaldo Martins)
2 comentários:
Bravo, Oswaldo! Desafiador esse poema. Em tempo de fúrias atormentando cada um de nós, há um deslocamento do olhar para o sacrifício de Ifigênia. Imagens belíssimas, como "navios emprestam ao seco sua quilha/bailarina" ou "tudo em mar desfralda-se/horizonte e bandeira rota", ou "gaiola/a baía exsuda/gritos/a exaustão/do vendedor" dão conta do lugar a que chegamos com tanta expansão mercantil, e matricídio (falo do planeta e já extrapolo de Ifigênia a Orestes e já viajo na leitura).
Mito por mito, viagem por viagem, fui parar na lenda do Pirarucu, que parece totalmente deslocado na extensão ritmica do verso no último movimento, na sonoridade da vogal fechada, mas não está. Nessa marinha em que tudo cabe, da Hálade à Amazônia, leio o charco (escrevo essa palavra e lembro de um fado do Caetano, os Argonautas) a que chega a civilização e seu poema tentando demontá-lo pelo resgate da cultura.
Obrigado, Alexandre pela leitura. Há um Camões e pessoa embutidos no poema 2 e.chega ao Castro Alves.
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