domingo, 12 de abril de 2020

Quando o Corona for Embora Crônica de Carlos Augusto Corrêa

Marcelo Tavares


Carlos Augusto Corrêa 

Quando o Corona for Embora 

Quando o Corona for embora, não perco tempo. Rápido, rápido me desfaço da vidinha, também boa, embora um tanto enjoada, e vou continuar vivendo quase que 80 por cento do dia ... na rua. 
Acham que vou deixar de sair às tardes pra pernear no shopping? Tem lá um barzinho a minha espera, um Mega Mate à disposição onde saboreio uma bela de uma broa de milho, regada a goladas de mate puro. Tenho ainda uma Praça da Alimentação onde volta e meia me afogo num prato de quibe, palmito e outríssimos bichos. Que é que há!? Sou filho do Além, ué.
Ah quando esse Corona se escafeder, quero de novo a Ilha fervendo de gente. Quero aquele entra e sai, um saindo de bar, outro entrando em supermercado. E então vou tirar uma segunda via de uma conta qualquer (da Net, por exemplo), porque ela não me manda a conta desde o ano passado, e fica por isso mesmo, apesar das reclamações. 
Chô Corona, bichinho miserável. Quantos afazeres está me impedindo de executar. Pois é, mas quando ele sumir de um sumiço que espero ad eternum (ou eterno?), desejo de novo a Cinelândia, o Lido, o Largo do Machado em transe. Nesses cantos e em tantos outros da cidade, espero encontrar duas e três Madalena com quem semanalmente converso com uma alegria de viver. Alegria que também absorvi de uma linda mulherzinha que anos fez ponto lá no Lido, e um extraordinário sucesso executando algo que me abstenho de declarar.
Por favor, as praças de todos cantos da cidade voltarão a estar a minha disposição pra ler, escrever e praticar outros negócios. E o barzinho do Odeon e os bares das ruelas da Cinelândia? Que dizer igualmente do meu, do nosso Passeio Público cheitando ou não a catinga de gato, porém escancaradamente sem o vírus? 
Quando a quarentena acabar, continuarei a caminhar por aí sempre preocupado com o outro em meus escritos. Prometo continuar a escrever crônicas e poemas sobre tudo e todos que são forçados a levar uma vida que Deus não quer ou sobre aqueles que afetam nossa existência pacífica.
Quero rever o Rio como deixei há um mês. Não vou dizer como na canção: "tô" me guardando pra quando o carnaval chegar. Mesmo preso em casa, estou me soltando às vezes pra quando chegar a santa hora de vagamundear.
Esse virusinho, que me perdoe, mas não pode abusar e usar por tanto tempo me obrigando a quarentenar. Gosto de ouvir o roncar da cuíca em todos os pagodes dessa cidade. Olá, Maracanã, olá, Municipal, olá, Biblioteca Nacional. Eu vou sacudir a carcaça e só sossegá-la quando - fora - não houver mais nada que leve à doce badalação.

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