domingo, 17 de maio de 2020

Menino Esperto, crônica de Carlos Augusto Corrêa

Menino Esperto 

Carlos Augusto Corrêa 


Sangduck Kim

Você, sobrinho, um menino esperto me pergunta o que eu faria se fosse ligado à saúde. Decerto, ia lutar junto às autoridades pra pedir coisas da maior urgência. 

A primeira delas pra início de conversa: solicitar mais respeito aos trabalhadores da saúde. Que dessem aos mesmos vencimentos convincentes e fornecessem material bastante pra poderem trabalhar. Preste atenção, vem faltando muita coisa nos hospitais: máscaras, luvas, respiradores e leitos, filho, imagine agora no caso do Covid.

O que você acha que eu deveria pedir mais? Isso, pela sua gesticulação, acertou. Mais hospitais. Não constroem campos de futebol? Os doentes não pagam entrada, senão impostos, e merecem, pois, espaço em qualquer hospital.

Você há de convir que leitos, já mencionados acima, são essenciais. Nunca me esquecerei de um paciente terminal de Aids que vi chegando a um grande hospital do Rio nos anos 90. Tinha uma expressão de sofrimento e pânico. Os leitos, todos ocupados. Então improvisaram um colchão velho e o puseram deitado à porta de uma enfermaria.

É antigo, moço, o problema. E agora então piorou. Uma das coisas tristes que venho notando é que os defensores da volta ao trabalho nessa crise da covid agridem os próprios familiares dos pacientes. Chamam alguns deles de esquerdistas por tomarem muita precaução pra não contraírem a doença. Seria preciso mais respeito à dor da família.

Eu teria muito mais a pedir às autoridades. Que o governo pagasse o auxílio emergencial de R $600 reais aos necessitados. Até agora quase 30 milhões ainda não o receberam. 

Quantos aos empresários? Boa, a lembrança sua. O governo teria de ter solução pra socorrer aos pequenos e médios empresários.

Seria muito tudo isso? Não creio. O Brasil poderá estar à beira da falência, bem sei. O segundo semestre que se aproxima vai ser decisivo, mas não estamos ainda com o pires na mão. Então seria hora de governo e povo juntarem as forças. Mas como isso pode ser feito? O governo federal se opôs aos governadores estaduais e ao Congresso. Isolou-se também de uma considerável parcela do povo. Clima muito tenso. E o problema da saúde vai ficando de lado com muita gente morrendo por falta de assistência.

Se eu fosse da saúde, ao mesmo tempo que ia pedir essas e muitas outras questões, ia - vai concordar comigo - ficar com a cabeça inteiramente branca

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