Os 100 Anos de João Cabral de Melo Neto
Carlos Augusto Corrêa
Eu era bem moço quando comecei a ler João Cabral e, confesso, levei um susto. Habituado a uma poesia intimista, de repente topei com aquela arte mais racional, pensada ao extremo. Sinceramente causou estranhamento e no fundo causa até hoje décadas depois de ter produzido a sua obra e anos após a sua morte.
Viveu até os 79 anos. Este ano, em outubro, João Cabral de Melo Neto faria 100. Por tudo isso sinto necessidade de escrever essas linhas. Quero lembrar ao leitor veterano e mostrar aos novatos quanto ele influenciou as gerações de 60, 70 e 80. E ainda é presença viva na poesia do século XX.
Bem cedo e assumindo as lutas de minha geração, li "Morte e Vida Severina" comovido. Uma de suas obras maiores. Vi o poeta do Capiberibe falar do homem do campo com tanta densidade.
Foi e é um poeta com um rigor. Pensa exaustivamente em cada verso, cada estrofe, cada poema. Havia emoção em sua arte? Evidente que sim. A emoção circula suave. O poeta fazia questão de que ela não fosse muito explícita.
Esta visão de arte foi bastante praticada pelas vanguardas poéticas brasileiras e pela poesia discursiva posterior. João Cabral se aproximou dos maiores do século XX. Juntou-se a Mário de Andrade, a Oswald, a Bandeira, a Drummond, a Murilo Mendes, a Jorge de Lima. Alguns grandes poetas contemporâneos, dele, se aproximam. Cito Ferreira Gullar, por exemplo.
O poeta conquistou prêmios importantes, como o Jabuti e o Neustadt, que equivale ao Nobel Americano. Muito bom lembrar que, na época de sua morte, seu nome foi muito lembrado ao Prêmio Nobel de Literatura. João Cabral - um desses poetas que, em vida, conheceram o gosto tão almejado da eternidade.
Um comentário:
Muito bem editado o texto. A foto dele dá dimensão à crônica.
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