sábado, 9 de janeiro de 2021

Na estação central, Edwin George Morgan

Antologia TextoTerritório


Edwin George Morgan 
(Glasgow, 27 de abril de 1920 - 19 de agosto de 2010)


Na Estação Central, no meio do dia

uma mulher está mijando na calçada.

Com as costas para a parede e as pernas afastadas

ela inclina-se, o cabelo caindo sobre o rosto,

a saia sombria e o casaco nem sequer levantado.

Sua urina bate na pedra com força

e evapora em direção à sarjeta.

Ela não é velha, nem jovem,

não é suja, nem limpa,

nem em trapos, mas quase.

Ela está no centro da cidade, o fantasma no banquete.

Executivos saindo do trem de Londres

assustam-se incrédulos mas pulam o rio

e mansamente juntam-se à fila do táxi.

A gente de Glasgow passa apressada,

mal olha, ou se atreve a olhar,

ou olha severamente, dura como aço, como

o olhar do poeta, não duro como aço

mas severo, rápido, diminuindo o passo

um pouco, registrador maldito, seus sentimentos

confusos como as folhas de novembro.

Ela é uma estátua em um redemoinho,

surrada por nada que ele possa dizer em palavras,

sangrando nas ondas de conversa

e transita fluidos terríveis de necessidade.

Somente dois homens francamente param,

com um sorriso largo, jogam-lhe um insulto

enquanto cruzam a rua para apostar no jogo.

Sem eles a indignidade,

a dignidade, seria incompleta.


MORGAN, Edwin.  Na estação central.  Seleção, tradução e introdução de Virna Teixeira.

Brasília, DF: Editora da Universidade de Brasília, 2006.

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