Edward Hopper |
A janela do quarto era o meu lugar preferido para observar as
coisas que me agradavam, de maneira exagerada. Eu podia perceber até
mesmo o tipo de sentimentos das pessoas que passavam pela calçada ,
embora elas permanecessem ocultas e silenciosas .
Certo dia acordei, ansiosa para sentir o aroma do café da manhã,
de ver as crianças preparando -- se para a escola, com seus livros
nostálgicos, que me permitiam sonhar com a minha infância, tão colorida e
divertida. Posicionei-- me na janela, como de costume, porém percebi
que uma névoa se formara, dando a impressão de que minha visão estava
turva, quase levando -- me ao desespero. Tentei fechar os olhos por
alguns segundos, na esperança de compactuar com a alegria novamente, mas
constatei que meus olhos haviam realmente me traído assim que os abri.
Tentei segurar as lágrimas como forma de protesto àquela grande
decepção, mas tinha a nítida sensação de que havia uma venda cobrindo os
meus olhos, pois eles pareciam tão pequenos .... tão inocentes ,
totalmente incapazes de ver o precipício que estava à minha frente,
pronto para roubar minha vida, de apagar meu passado, e sobretudo de transformar em escuridão a minha luz.
Eu ouvia muitos ruídos à minha volta, mas a névoa continuava a
me perseguir, como se pressionasse cada vez mais os meus olhos. Estiquei
a mão direita, com a certeza de que encontraria a venda e simplesmente a
removeria, entretanto a frustração aumentou ainda mais, diante da
impossibilidade de resolver tal situação.
Finalmente ouvi passos vindos da escada.Os passos eram intensos e
provocados pelo salto alto, causando em mim uma mistura de medo e
esperança, apesar de não distinguir quem era aquela pessoa, que
quanto mais perto chegava, mais meu coração acelerava.
Ainda movida pelo pânico, tive a percepção de que haviam
cessado os passos, dando lugar à respiração um pouco cansada. Senti o
toque quente da mão, que tentava consolar -- me, mas não podia ver a
expressão do rosto, que provavelmente olhava fixamente nos meus olhos.
Não resisti e dessa vez deixei que as lágrimas inundassem minha face,
tomando a liberdade de jogar -- me em um forte abraço, que fora
correspondido de forma inesperada. Aquela mão tão gentil conduziu -- me
até a porta e afastou -- se. A partir daquele momento percebi que embora
os meus olhos não alcancem a beleza da natureza, o rosto das pessoas
que amo , ou até mesmo o meu próprio rosto, ainda assim posso enxergar
com meus pequenos olhos, mas de uma outra maneira, talvez com os olhos
do coração, onde a beleza é imaginária e as cores e formas são
ilimitadas, porém mais valorizadas, proporcionando a verdadeira
felicidade!
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