sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Escrever está nas veias

Por que escrevo?

Carlos Augusto Corrêa





Crônica publicada na coluna "Chão de praça". Com ela o autor nos responde à provocação Por que escrevo?, nova seção do Blog.


Já andei esses anos todos conversando com escritores de todas as tendências, e a maioria concorda em um ponto. Mas qual? O ato obsessivo de escrever. Até os vinte e tantos anos eu escrevia mais movido pelo prazer e pelo sonho: a reflexão tinha igualmente a sua importância, claro. Acontece que, novinho, este sonho e prazer eram muito fortes e eu não sentia bem o lado obsessivo de escrever. Escrevia constantemente, embora sem essa consciência estar muito aflorada.

Fui chegando aos trinta e tantos anos, quarenta, e a reflexão, a consciência desse ato obsessivo foi aumentando e aí notei que o ato da escrita permanente era uma necessidade lá do íntimo de mim, não sei se do coração, do aparelho digestivo (do urinário jamais). Porém vinha de meu mais fundo dentro.

Ontem, bem ontem, nos anos 90, já madurinho da silva, resolvi escrever uma crônica por dia, vejam só!
Impus a mim isto como obrigação tensa e ao mesmo tempo deliciosa. Essa tarefa diária foi diuturna, durou até os cinquenta e tarantantantos. Resultado, enchi cadernos e cadernos, joguei muita crônica fora, aproveitei outras que publiquei alternativamente. E nos últimos tempos, venho escrevendo também com boa constância e decidi publicar esses meus pecados aqui no Face por motivos que já aleguei em outros textos.

Agora, curioso, faço isto apenas com a crônica. Com os demais gêneros (poesia, conto, ensaio) demoro pra escrever. Não por dificuldade. Ocorre que trabalho cada palavra que sai, e é verdade. Vou construindo meus textos a pouco e pouco sem me importar se levei dois e três dias pra compor apenas um poema de três, quatro estrofes. Faço questão de frisar: ainda que não tenha a preocupação, por exemplo, de publicar um poema, um conto por dia, vou trabalhando diariamente esses textos até ficarem prontos. Isto é, a necessidade é da mesma forma obsessiva, só que de outro modo.

Já beirando os setenta, reconheço: a vontade de escrever obsessivamente se acha tão enraizada que algumas madrugadas acordo com uns versos, com um tema de crônica ou qualquer palavra ligada a essa profissãozinha de fé, danada de gostosa. E não tem jeito, se eu partir com oitenta, noventa, cento e vinte, esse desejo ainda estará em mim entupindo-me o íntimo de poesia e de outros bichos literários. Ah, ainda bem que esses bichos não mordem; ao contrário, eles me acariciam muito.

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