quarta-feira, 20 de novembro de 2019

"Moços, digam não à censura", crônica de Carlos Augusto Corrêa

Moços, digam não à censura

Carlos Augusto Corrêa

Lucas CRANACH - (1472-1553)
Queima dos escritos de Jan Huss diante de um príncipe

Quem escreve aqui vem de longe, lá dos anos 60, e ainda novo aprendeu a rejeitar um golpe de estado, o de 64, e mais tarde, o de 69, que durou duas décadas. Foram duas décadas de regime forçado, de prisão de nossa consciência em nome de uma "democracia" que bem poderia ser vendida em farmácia com receita de laxante.
Moços, não creiam num regime que prega o silêncio obrigatório e impede nossas manifestações culturais. Não se deixem levar pela palavra fácil e fascista de candidatos à presidência que pregam maliciosamente a morte de bandidos, e dizem alto e bom som: Bandido Bom é Bandido Morto. Pois bandidos não vão acabar assim com a violência. Vocês que tanto receiam a truculência, como eu e muitos, têm de saber que o combate a esse mal se faz antes de tudo com a educação e um longo trabalho de esclarecimento que deve ter a colaboração da sociedade com a classe política. E não dando marretadas pra intimidar o marginal, torturando, estimulando o tiroteio. Esses candidatos cujo representante mais destacado é o deputado Jair Bolsonaro tentam tranquilizar a vocês oferecendo soluções superficiais apenas pra conseguirem votos. Não sejam ingênuos, e mais tarde vão se arrepender.

Vocês não sabem o que é uma ditadura. O rock e os ritmos como hip hop, passinho e outros certamente poderão mais tarde ser censurados. Como são censuradas as manifestações do grupo LGBT ou de quem prega a cultura negra, tão rica a nós. Tomem cuidado.

O chamado nu artístico está sendo reprimido. Recentemente, no Distrito Federal, o artista e perfomer paranaense Maikon Kempinski, foi preso pela PM do Distrito Federal só por ter se apresentado nu no desenrolar de sua apresentação. Foi considerada atentado ao pudor a sua nudez.

Hoje, dia da Consciência Negra, Zumbi uma vez mais é homenageado por nós que acreditamos em sua luta libertária, porque se doou a seu povo acreditando que ele podia ter a mesma liberdade do branco.

Não apostem na falta de liberdade de expressão artística. Apostem na luta popular pra ter os seus direitos artísticos e todos os demais respeitados.

Moços, não se agachem, não creiam em pérfidas promessas. Em verdade, esses que hoje condenam nossos atos artísticos, religiosos, políticos são aqueles que desejam a volta aos tempos ditatoriais. Quem aqui lhes escreve sabe, sobretudo, que o pior tipo de escravidão é a prisão do espírito. Um povo sem poder se exprimir é um povo sem vida consciente.

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