domingo, 2 de agosto de 2020

Amarelinho, Você Fechou!!!?, crônica de Carlos Augusto Corrêa

Amarelinho, Você Fechou!!!?

Carlos Augusto Corrêa





Quinta-feira passei pela Cinelândia e vi suas portas fechadas. Claro que detestei. Podiam ter se fechado pra uma reforma. Não foi o caso. Você parou de existir. E justo você que tem a cara do Rio, aquele jeito solto e divertido do carioca. Não só você, é claro.

Eu sempre disse que é um bar sorrindo. Quem não entende essa imagem? O carioca, o brasileiro, o estrangeiro acariocado ou aquele estrangeiro que vem de passagem e dá uma sentada em suas cadeiras entendem o que escrevo.

Você é tão antigo que chegou a trocar de nome. Era o Café Rivera. Depois passou a ser o Amarelinho devido à cor do prédio onde você existe desde 1921. Eu tinha vontade era de ressuscitar Francisco Serrador pra ele reabrir as suas portas. Que pena! O sorriso do carioca está de luto.

Aqui se sentaram ilustres. Vinícius, Niemeyer, Mário de Andrade, tantos outros. Meu povo também aqui se sentou, como eu, que conversei não só sobre as meninas do asfalto dali mas sobre a importância do movimento negro. Aqui se conversou a respeito da Era Vargas. Algumas vezes me escondi em seus banheiros da polícia que perseguia estudantes. Minha geração e outras vieram celebrar em suas mesas a Passeata dos Cem Mil e mais tarde a chegada da Nova República.

Perto de você olho o Theatro Municipal, a Biblioteca Nacional. Olho o Cinema Odeon, a Câmara dos Vereadores, o Centro Cultural da Justiça Federal. E agora vou passar olhando suas portas fechadas.

Amarelinho, tão nosso, tão inho, quem gostou de ver você assim? Ainda bem que você se manteve em pé e espero não vá ser demolido por causa da especulação imobiliária.

Um comentário:

Unknown disse...

Muito bem postado o texto. A ilustração reforça o que quis dizer. Até agora lamento terem fechado as portas.

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