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Imagem de Vitor Dutra Kaosnoff por Pixabay |
Há momentos em que a paciência se esvai, em que a mais incontornável das sensibilidades grita e a revolta toma conta. Talvez, quando a população brasileira despertar do pesadelo em que está mergulhada, seja tarde demais. A raiva embutida nas radicalidades avivadas pela mitomania cederá lugar ao sentimento apocalíptico do vazio que acomete as grandes desgraças. Estamos a um passo de uma.
O avanço da insanidade, da má-fé e da incapacidade de ler a realidade desenham-se com ares tão sinistros que em pouco tempo não nos restará sequer um moinho de vento a combater. Os moinhos se transformaram em uma população armada, miliciana, cheia de achismos e negacionismos que perfuram a sensação de sensatez que administravam nossas diferenças e crenças diversas, inclusive familiares.
Cindidos até a incompreensão fomos transformados em um povo de zumbis, a andar de motocicletas e, com cara de beócios, a gritar mito, a escalar com pudores de assassinos as escadas do cadafalso do retrocesso. Pessoas, até então com um mínimo de pudor, dançam no panteão dos escusos, incensando os corpos apodrecidos, finados pela covarde ação policial nos subúrbios do Brasil.
Creem, coitados de nós, na propaganda da nacionalidade fundeada nos portos seguros da colonização e da catequese, que apresentam deus numa mão; na outra, a metralhadora giratória do preconceito e, nas mãos que lhes sobram, a imagem de um país eternamente postado frente ao mito avoengo da grandeza, em expectante agonia.
A agonia se anuncia, os relógios não marcaram a hora, os encontros amorosos deixaram lugar ao estupro, ao antepasto das bestas, à devoração dos fígados sangrentos, que as balas deixam expostos nas vielas, casas modestas, apartamentos e mansões do país, enquanto o riso cruel nos persegue, ratos em esgotos, que esperam a prisão, a tortura, os corpos desaparecidos ou a solidão do exílio, nem que seja no Paraguai.
3 comentários:
É uma tristeza sem fim, um "oco sem beiras", um pesadelo.
Muito bom. Um tempo estranho de se viver, ao invés do convívio com a vida, a predominância da morte.
O Horror!!!
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