Mário da Silva Brito: uma de nossas grandes fontes
Carlos Augusto Corrêa
Nos meus vinte e poucos anos, mas poucos mesmo, entrei na editora Civilização Brasileira pra falar com o editor de sua revista, e já meu amigo, o Moacyr Félix. Era uma sexta-feira ao final da tarde, hora em que muita gente se prepara pra experimentar a tal antevéspera prazerosa (ou molecamente prazerosa) do sábado. Cheguei apressado, a editora meio vazia. Mesmo assim topei na escada com um senhor que me olhou sério e delicado e me explicou que Moacyr já tinha ido embora mas que, se quisesse, ele bem podia me atender.
Agradeci, troquei palavras com ele, que era homem de pouca fala, muito embora atencioso e delicado. Logo no primeiro minuto olhei bem pra sua fisionomia e reconheci estar conversando com Mário da Silva Brito, esse nome de muita significação em nosso Modernismo e uma de nossas grandes fontes de saber sobre esse movimento que mexeu com a literatura nacional. Eu sabia que diante de mim estava o autor da História do Modernismo Brasileiro. Um dos maiores estudiosos dessa tendência literária, senão o maior de todos.
Então me despedi embevecido e prometi que voltaria outras vezes não só pra falar com Moacyr. Em outra oportunidade iria perguntar àquele mestre sobre a obra de Mário de Andrade, saberia ainda como era Oswald de Andrade, se é que o conhecera, e outros detalhes que me preocupavam porque na ocasião já tinha coluna de livros em jornal.
Desejei perguntar a ele como fazia aquelas frases criativas que eu conhecia, pois Ivan Junqueira já me falara delas. É dele o seguinte pensamento: "Envelhecer é cansar-se de si mesmo". Bem interessante e real. Essa frase me acompanhou naquele início de mocidade, ainda que de velhice conhecesse muito pouco mas ela me mostrou que o envelhecimento era mais um estado de nosso íntimo. Eu já havia lido o De Senectute, e isto, cá pra nós, não era o suficiente pra que um menino se tornasse doutor no assunto.
Cheguei a vê-lo outras vezes na editora, e sempre ocupado com seus negócios. João Antônio me dizia quando não conseguia permissão de Moacyr pra publicar na revista: "Fala com o Mário, ele te ajuda. Se quiser, eu posso falar".
Sempre o considerei um escritor muito econômico com as palavras. Isso tornava ágil e bem leve o seu texto. Ele, posso dizer, que foi por isso um de meus exemplos de escritor maior. Machado, Drummond, Jorge de Lima e bebendo na linguagem de Fausto Cunha, todos esses e mais um pequeno tanto foram autores que li, reli. E releio. Sempre que releio Mário da Silva Brito e outras grandes influências, vou descobrindo detalhes que acrescento ao que escrevo pra poder chegar um pouco perto deles. Só um pouco, e está muito bom.
4 comentários:
Sempre foi uma pessoa comedida, de pouca fala, todas as vezes em que o encontrei. Mas muito delicado. No primeiro encontro que tive com Mocyr na Civilização,em 1972, foi ele quem me conduziu à sala da revista.
Ele não tem sido muito lembrado, o que é uma lástima.Sua linguagem seca e ágil me ensinou muito.Pesquisei bastante em sua História do Modernismo.
A foto que ilustra seu texto não é de Mário da Silva Brito e, sim, de Jorge de Lima
josé armando Pereira da Silva
jap.silva@terra.com.br
Agradecemos o comentário e a correção. A foto já está trocada.
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