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Kukrynksy, 1943 |
Meus olhos, não só os seus, poeta, são pequenos e mesmo assim um tanto dilatados, para ver um país aflito e essa fila "de esperança que fugiu dos mercados desse tempo". Uma esperança, quase como linha puída, de tão frágil, e lá dentro do coração popular.
Meus olhos são pequenos, de fato, mas grande é o olhar que se lembra até dos detalhes que marcam a decadência social a pouco e pouco.
É nessas horas de rara tristeza que não vejo também a natureza florindo, mas "coqueiros rasgados" e a rosa de Hiroshima e os raros jardins da cidade que não sorriem como nas manhãs mais sadias de minha infância. O que vejo não são cócegas de espírito, senão o tempo difícil de uma covid que veio pra sacrificar a essência do planeta.
Poeta, o que meus olhos veem são países mutilados pelo poder do capital. São cidades e estados marcados pelo lucro desenfreado. Gente corroendo o que há de mais interno no íntimo da gente.
E o que sobra é uma aridez sem limites.
O que sobra, disso, é um vazio, poeta. São como você disse, "nossos gritos roucos, os poderes ilimitados mais que todo exército". São essa vida que poderia ser tão mais natural, tão mais coletiva e amorável experimentada de sul a norte do planeta.
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