domingo, 22 de agosto de 2021

Meus Olhos Também São Pequenos Para Ver, Carlos Augusto Corrêa

 

Kukrynksy, 1943

Meus olhos, não só os seus, poeta, são pequenos e mesmo assim um tanto dilatados, para ver um país aflito e essa fila "de esperança que fugiu dos mercados desse tempo". Uma esperança, quase como linha puída, de tão frágil, e lá dentro do coração popular.

Meus olhos são pequenos, de fato, mas grande é o olhar que se lembra até dos detalhes que marcam a decadência social a pouco e pouco. 

É nessas horas de rara tristeza que não vejo também a natureza florindo, mas "coqueiros rasgados" e a rosa de Hiroshima e os raros jardins da cidade que não sorriem como nas manhãs mais sadias de minha infância. O que vejo não são cócegas de espírito, senão o tempo difícil de uma covid que veio pra sacrificar a essência do planeta.

Poeta, o que meus olhos veem são países mutilados pelo poder do capital. São cidades e estados marcados pelo lucro desenfreado. Gente corroendo o que há de mais interno no íntimo da gente.

E o que sobra é uma aridez sem limites.

O que sobra, disso, é um vazio, poeta. São como você disse, "nossos gritos roucos, os poderes ilimitados mais que todo exército". São essa vida que poderia ser tão mais natural, tão mais coletiva e amorável experimentada de sul a norte do planeta.

 

Nenhum comentário:

Convocatória

Envie seu texto para Blog da TextoTerritório - "Erotismo e saúde"

  Milo Manara - Enfermeira Envie sua participação sobre o tema "Erotismo e saúde" para o Blog da TextoTerritório. Milo Manara - Nã...