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Janelas da Favela |
Olhos miúdos de nativa genética
rasgados, espraiados pela cara
e com o cruzar de cada ano
mais amiudado o olhar,
rodeado de vincos, sulcos, rugas
e rusgas de impressão
O olhar amiúda o que os olhos não vêem
ao contemplar açudes de lágrimas
que escorrem pra dentro.
sondar miudezas,
estreitas janelas de luz
enquadros,
esquadrias, quadros estritos
nem sei se acaso miram o infinito.
O olhar que não vê
o que não quer
e se quer o que não vê
olha pra dentro
os quadros, em quadros o pensamento
frames
miragens de terras outras desejadas,
frêmito do ar que se desloca
derramado do sonho.
Olhos de ver, olhos de alma
Sina, tracejo, desejo na palma riscado
M de Maria, M de mãe, M de mulher
Com linha da vida autorrevista
à vista de um ponto de onde se avista,
defronte a luz viciante da tela branca,
olhos miúdos que lampejam
ideias, réstias de luz,
de sonhos endormidos
nem sei se acaso deslindam o impossível.
O olhar que vê o que não quer
O corpo voltando pra dentro,
viagem de regresso,
o que se expandiu
se recolhe
o curso da vida
que flui e escorre.
Olhos pequenos, de mãe, de avó,
olhos argutos que vêem mais
quando se está só,
mas que só contemplam melhor
quando se está cheia
de vida, de luz, no entorno.
Fechar os olhos e continuar vendo
o som morno
do sangue que pulsa e continua a correr
por dentro
E irradiar pra fora, outros corpos
rebentos
Ainda meus, sempre novos.
Encarar o que se é e continuar atenta
ao ofício de ser
quem se olha amiúde.
Maria Aparecida S. Ribeiro, Aracaju, 27/07/2021.
4 comentários:
Os olhos miúdos da poeta, através da poesia, nos fizeram olhar para além dos Olhos Miúdos!
Lindo!
Me orgulho e me deleito com suas palavras.
Bjs
Uau! Arrasou mesmo! Ainda bem que deixei pra ler uma hora em que estava com tempo e calma!
Sinceros parabéns!
Parabéns!
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