Há mais de cinco décadas este mestre abraça uma sala de aula onde aprendeu primeiro de tudo a se transformar. Sim, a se transformar e a transformar-se envolvendo-se dia a dia com a paixão maior de sua vida: a escola.
Aos setenta e dois anos estaria ele , de fato, velho para o magistério? Tenho ouvido muita chacota de quem o acha cansado até pra segurar um pedaço de giz. Mas, não sei, tem qualquer coisa no branco de seus cabelos que diz o contrário.Diz que em suas mãos o giz se transforma constantemente em fonte de luz.
Não quero crer nas outras línguas. O que sei mesmo é que ele vem resistindo ao salário e a outras formas de humilhação que os sucessivos governos lhe têm imposto. E a tudo e a todos tem respondido com suor, amor à vida e uma dignidade que jamais vai sair de seu rosto pra ficar nos gestos de aduladores.
Apesar das rugas criando degraus na testa e do andar pesado, tudo indica que só vai parar de ensinar quando parar de aprender. E parando de aprender deixa de ensinar e certamente de viver.Lição de ensinar aprendendo. Lição de permanência.
Enquanto seu coração não deixar de bater, ele continuará batendo pela escola. Foi com essa arte nas veias que educou os filhos a partir dos vinte anos, quando a vida lhe era ainda bem cedo, e desse tempo em diante veio aprimorando um saber, que também serve de resposta a todos quantos não mais o desejam em sala de aula.
Já me perguntei o porquê de tanta entrega e só posso responder com essas conclusões que vou tirando um tanto saudoso (saudade de ex-aluno) e com a alegria de saber que em seus setenta e dois anos ele vem transmitindo esta sua infância - tão constante - a gerações e gerações que com o tempo envelhecem. Mas ele não.
Pois se nessas cinco décadas tem se dedicado a ensinar, a vida também lhe ensinou a cultivar a sabedoria, a infância, enfim essa beleza que mora no fundo da gente e mantém o espírito em pé, além de revigorar seu corpo e suas pernas já cansadas. Posso lhes garantir, portanto, que este meu mestre de ontem é eterno enquanto ensina.
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