sábado, 28 de setembro de 2019

Bate-bola com Guilherme Landim

Guilherme Landim é o autor da foto de capa de O andarilho carioca, livro do mês de outubro do nosso Clube do Livro. Pensador de imagens, mestre e bacharel em Comunicação, atualmente desenvolve projetos teóricos e práticos relacionados à linguagem cinematográfica, com foco no documentário, com pesquisas tem no campo da Antropologia Visual e trabalhos voltados principalmente ao documentário etnográfico. Foi diretor de fotografia, roteirista e produtor do documentário Habita-me se em ti transito e está em processo de realização, como diretor, do documentário Batuque: (en)cantos de luta sobre o Batuque Afro-brasileiro Nelson Silva. Atua também como programador de mostras de cinema por meio do Cineclube Bordel Sem Paredes e em parceria com outras instituições. Ministra oficinas de cinema e arte no SESC Paulista e SESC Bertioga.

Leia a seguir nosso bate-bola com Guilherme Landim e , ao final, confira uma seleção de suas fotos feitas especialmente para o Blog TextoTerritório.




Qual seu poeta preferido?
No cinema, meu poeta favorito é Agnès Varda, uma sutil catadora de imagens do ínfimo. Na pintura é Van Gogh, em seu mundo onírico de impressões. Na fotografia, gosto da poética visual de Sérgio Larraín, com suas deambulações pelo Chile. Em verso e prosa, é Guimarães e na vivência do habitar o mundo, o poeta favorito é meu avô, José Ricardo, que me faz ver encanto em tudo, com a potência da palavra e da simplicidade das coisas.   

Um poema imperdível?
Fevereiro, de Matilde Campilho. Esse poema me desconcerta, me faz pensar que é possível ser atravessado por sutilezas do amor. É um convite delicado, é sobre ser afetado pela magia das coisas que estão em suspensão. Atualmente vivemos um tempo hiato, descompassado, estranho, caduco, repleto de desencontros, de ausências, de uma falta que nos move a um certo transe, e ao haver um encontro mínimo, não se pode nem mesmo dizer “eu te amo”. Pode parecer rude, agressivo, imbecil e frágil. Mas esse poema faz um convite a ser ativado pelas descobertas do viver, descobertas que não se faz só, pois há uma dança no percurso. 

Qual poeta contemporâneo você colocaria em destaque?
Ana Martins Marques é um destaque atual. Gosto de sua brincadeira com a escrita, tem vida em suas cartografias, memórias, viagens, seus verões com as palavras. Uma vez, lendo seu poema “Tenho quebrado copos”, senti o gosto do sangue nas palavras. Sempre que releio é como se abrisse minha gaveta de memórias, revisitasse as dores e alegrias, buscando um brilho súbito nas lembranças. Poesia é isso, é estar constantemente à procura de algo que brilhe, mesmo que seja quebrando copos. 

Uma cidade?
Valparaíso no Chile, tem algo mágico e transcendental lá, como cita Agnès Vardá em seu filme Daguerreótipos, ao falar da rua onde passou a infância: “tem um aroma de objetos congelados no tempo”.

Um filme?
“Paris est à nous / Pelas ruas de Paris”, um filme sobre a sensação de suspensão em que estamos imersos, sobre memórias fragmentadas, sobre sonhos desconcertados de uma realidade imaterial, sobre ser incerteza viva. 

Uma bebida?
Um gole de cachaça num dia de verão na mesa verde de Big Charles.  

Melhor lugar para escrever?
Longe, longe de tudo. 

Melhor lugar para ouvir música?
Sala São Paulo, ali eu crio universos paralelos por meio da música.

 

Uma música?
Concerto de Aranjuez, não sei nem explicar.  

Um compositor?
Chadas Ustuntas.

(Nota dos editores: No vídeo, Chadas Ustuntas executa o Concerto de Aranjuez, de Joaquín Rodrigo. Não deixe de assistir! Depois reserve um tempo para apreciar nossa seleção das fotos de Guilherme Landim, ao som de Translação, álbum autoral de Chadas Ustuntas)

Um quadro?
Gosto do mundo desconcertante de Escher, essa gravitação, esse deslocamento. Lembro de ter visto uma exposição dele no Palácio das Artes, em Belo Horizonte e fiquei impactado com esses transetês visuais, principalmente na litografia “Relatividade”, de 1953.
Relatividade - litografia de impressão do artista holandês MC Escher

Confira também a exposição "Fragmentos", seleção de fotos de Guilherme Landim feita por Alexandre Faria.

Um comentário:

Cassiana disse...

Jovem brilhante. Adorei a entrevista.

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