sábado, 28 de setembro de 2019

Fragmentos - exposição fotográfica

Fragmentos

Fotos: Guilherme Landim
Seleção e Texto: Alexandre Faria


Foi pensando na capa do livro O andarilho carioca, de Carlos Augusto Corrêa, que imaginei. O Gui deve ter alguma foto que sirva. Passeei pelo seu Instagram e rapidamente encontrei o que que queria. "É a minha cara", disse Carlos.
Sempre admirei o olhar de Guilherme Landim. Amante de cidades, que sou, gosto especialmente da forma como nos leva a observar o espaço urbano. 
Para selecioná-las, escolhi as que mais me comoveram, pela elaboração da tensão entre a figura humana e a paisagem urbana.
Para escrever, resolvi partir do próprio título dado pelo fotógrafo à série de que faz parte a foto da capa, buscar recortes e fragmentos de textos.
A proposta da exposição é que se façam dois caminhos. Um, o das fotos; clique em qualquer uma delas e abrirá para visualizar todas. Outro, o dos fragmentos sobre as fotos. Não pretendo que sejam legendas nem comentários, mas um contraponto textual. Outra textura que se coloca ao olhar e aos sentidos, ao lado das fotos. Serão fragmentos curtos, com exceção deste primeiro, do livro Todas as cidades, a cidade, de Renato Cordeiro Gomes, a quem, aqui, também quero homenagear, in memoriam.
A cidade é o símbolo capaz de exprimir a tensão entre racionalidade geométrica e emaranhado das existências humanas -- revela Italo Calvino em seu testamento literário, as Seis propostas para o próximo milênio. Parece ser esta tensão o vetor que comanda a dramatização dos textos que constituem "o livro de registro da cidade". Aí ela é inscrita enquanto texto, lugar sígnico do mundo dos objetos, do mundo dos discursos, do material e do político. Textos que falam a cidade, ou onde ela fala, com sua capacidade de fabulação que embaralha a tendência racionalizadora, geometrizante, dos poderes que, com os desejos, os sonhos, as experiências e vivências dos homens, a querem ordenar e controlar. (Renato Cordeiro Gomes: Todas as cidades, a cidade)




"Disso que me aconteceu, lembro só de fragmentos descontínuos que. 
Que - não há nada depois desse que dos fragmentos - descontínuos"
(Caio Fernando Abreu - "Primeira Carta para Além dos Muros")






"Restaram, que nem cinzas, cicatrizes
que tentei cobir ainda com pudor
na memória tantas vagas
que nem posso repetir ou explicar
se me doeu, azar/ não quero saber de nada."
(Paulinho da Viola - "Cidade submersa")





"Perder-se também é caminho"
(Clarice Lispector - "Água viva")





O outro lado não é previsível:
A cidade é uma lâmina fria
cortando cômodas suposições
(Sebastião Uchoa Leite - "Tempus fugit no. 2)


urbe imensa
pensa o que é e será e foi
pensa no boi
enigmática máscara boi
tem piedade
megacidade
conta teus meninos
canta com teus sinos
a felicidade intensa
que se perde e encontra em ti
luz dilui-se adensa-se
pensa-te
(Caetano Veloso - "Aboio")




"Jamais se deve confundir uma cidade com o discurso que a descreve.
Contudo, existe uma relação entre eles."
Italo Calvino - As cidades invisíveis





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