domingo, 18 de outubro de 2020

A consciência da necessidade

Sarah Affonso 

Chão de Praça 

Carlos Augusto Corrêa 


A Consciência da Necessidade 


Uma definição pro amor, parceira? Tema tão vasto. Eu teria que falar sobre a visão do amor cortês, do amor romântico do XIX até o daqui, com o feminismo em alta e marcado pela velocidade da informação tecnológica.

Você, no entanto, prefere se fixar na convivência amorosa hoje. Certo. O que atrai, então, esse relacionamento? Será que é a condição social e financeira estável que dá a ambos tranquilidade pra desenvolver o amor? Não, decerto não é. Isto ajuda mas não é o determinante. Nem posso aceitar que a miséria seja motivo pra unir mais um casal.

Será o matrimônio importante pra se cantar um amor verdadeiro? Muito menos isso. Casado, separado, solteiro, viúvo ou que outra condição, não tem a menor importância. Esse tipo de casamento, hoje, não faz um amor perdurar. Tantos casais se desfazem anos depois de terem realizado um casamento com muita ou média ostentação.

Amiga, o que une um casal é o conceito de necessidade. Eles se unem porque um sente que é necessário pro outro. Um supre os limites da parceira ou parceiro.

O que fez Sam What, no filme Ghost, pra proteger sua mulher Molly Jensen a fugir dos bandidos? Sam What fora assassinado e em espírito permaneceu na Terra pra evitar que sua esposa fosse também morta. Se teve essa opção de defender a mulher de modo espiritual, sendo só espírito, foi porque em vida tiveram uma relação forte de necessidade um do outro. Só mesmo uma relação íntima bem estruturada, pode gerar essa consciência. Caso contrário, ela se desfaz a pouco e pouco.

Conheci e conheço casos assim. Um pedreiro amigo relatou em um momento em que meu casamento estava se desfazendo: "Carlitos, não largo minha família. Eu cuido do trabalho e da casa; ela, também. Quando me falta alguma coisa, ela entra com sua vivência. Quando a gente veio da Paraíba e foi construir a casa na favela, quantos sacos de cimento me ajudou a carregar. E, enquanto eu cimentava, ela martelava". 

Isto é amor. Veja que não é nada idealizado, romântico, ideal. É algo concreto baseado numa relação rica em experiência. Um ser necessário ao outro. Essa consciência da necessidade significa liberdade de ser e, no caso, de praticar o amor que perdure. Desse modo fica mais fácil até pra se contornar o problema do cansaço conjugal, caso ele venha a se manifestar.

Um comentário:

Unknown disse...

Quando escrevi essa crônica, pensei no relato desse pedreiro e me comovi. Expressiva ilustração.

Convocatória

Envie seu texto para Blog da TextoTerritório - "Erotismo e saúde"

  Milo Manara - Enfermeira Envie sua participação sobre o tema "Erotismo e saúde" para o Blog da TextoTerritório. Milo Manara - Nã...