Oficina de Escrita
Uma curadoria de textos para
pensar o trabalho do escritor
3 de maio
Oswald de Andrade
Aprendi com meu filho de dez anosQue a poesia é a descobertaDas coisas que eu nunca vi
Passe para o lado de quem vê
François Maton (Trad. Alexandre Faria)
Vivemos de uma ilusão: a de ser uma pessoa separada de tudo. É frustrante, é exaustivo, não estou obrigando você a dizer isso. No entanto, só precisamos estar muito atentos ao que estamos realmente percebendo no momento para fazer essa ilusão cair em um estalo de dedos. E então magicamente colocar as coisas em seus devidos lugares. Alegria. Para isso, antes de se voltar para o mundo como costuma fazer, volte-se para si mesmo desta vez.
Ou, mais precisamente, consulte o que está acontecendo aqui. Do lado de quem vê, e não do lado do que é visto. Observe que não há ninguém deste lado. Em vez de um eu miserável, só se encontra uma grande abertura para espetáculo do mundo. Uma espécie de espaço acolhedor, vazio, silencioso, muito vasto. Maravilha, como um salmão determinado subindo o rio, você acaba de subir o senso comum de percepção para chegar ao seu limiar, sua fonte transparente. Veja como a partir daí sua percepção é liberada. Não mais prejudicada pela obsessão por um eu ilusório em primeiro plano, ela pode finalmente se expandir em todas as direções. Observe seus sentidos acordarem quando você não estiver mais ali para sufocá-los. Seu olho não tem mais o que invejar o da águia dourada, seu olfato é tão bom quanto o dos cães farejadores, sua orelha pode se alinhar com a da coruja, seu toque é tão fino quanto o dos grandes primatas. Em suma, você está finalmente equipado para uma vida de poeta digna desse nome.François Maton (Tradução: Alexandre Faria)
MATON, François.
Exercices de poésie pratique.
Paris: POL, 2017. pp. 14-15.
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