domingo, 21 de fevereiro de 2021

Velório - Carlos Augusto Corrêa





Existem velórios em que se percebe um sofrimento genuíno de muitos. Mas neles (quem nunca notou?) há sempre uma ou duas vozes que dissertam sobre a bolsa de valores ou sorriem ou dão até gargalhadas. 

Já ouvi de alguém (esse pronome indefinido é pra esconder mesmo) que falou: "eu detesto tristeza em sepultamento, eu fui num enterro de um amigo bem gozador e a gente ficou se lembrando das piadas que ele contava. A turma deu muita gargalhada, foi um velório fantástico" (antes, é claro, da cremação do dito).
 
Existem velórios de todo tipo, como os exóticos em que põem o morto com maquilagem carnavalesca, ou, como vi na internet, dentro de um ringue. Existem aqueles de culturas diferentes da nossa. Mas vocês hão de convir que todos eles cheiram a tristeza, até mesmo um que mencionei mais acima.

O único velório que me causou (e me causa) alegria inesgotável, dessas que vêm lá de minhas veias, foi quando assisti sorrindo ao sepultamento da ditadura.


Um comentário:

Unknown disse...

Bem expressiva a postagem.

Convocatória

Envie seu texto para Blog da TextoTerritório - "Erotismo e saúde"

  Milo Manara - Enfermeira Envie sua participação sobre o tema "Erotismo e saúde" para o Blog da TextoTerritório. Milo Manara - Nã...