Sequestros de empresários, assaltos com arma, sem arma, estupro, pedofilia, desvio de verba, venalidade de toda sorte em todos os segmentos, será que não se ouve outra voz? Uma pausa é aconselhável.Ora, é preciso acordar mais com canto de pássaro. Eis aí uma boa sugestão para quantos desejam respirar ao menos de tempos em tempos um puro e maior sossego. Basta afiar bem a audição à beira da janela cedinho e ouvir a canção de um bem-te-vi (ou de qualquer bem-te-vejo): ela se torna bem maior que o som estridente de uma AR-15.
E por falar em pássaro, já no café da manhã recomendo o canto de uma outra ave: Simone. Misto de ave contemporânea com mulher de poros abertos, quem já a ouviu sabe, e muito, que sua voz de garganta na praça dá na gente uma vontade de sair por aí para abraçar e voar com palavras.
Muitas são as opções contra esse ar hostil. No almoço, por exemplo, que tal ouvir Vinícius? Ou mesmo absorver o panorama da Avenida Atlântica visto (hein?) do quarto andar e se sentir atlântico como o vento que não morre. Não tem contraindicação. Nenhuma dessas recomendações é possível? Nenhuma agrada? Que se ouça então um bom-dia de boca repleta. A solução é eficaz, tanto praticada por celular ou, o que é melhor, ao vivo. Vale insistir. Afinal, nem o sonho nem a ternura (perdoem o chavão) acabaram. Nem acabou aquele tipo de palavra que ao ser proferida toca a gente com a mesma simplicidade natural das águas.
Outra opção saudável: esperar por um sábado que pode significar chope no Amarelinho, um encontro com a arte de Fernanda Montenegro, um passeio pela Vila Isabel de minha infância, lá onde aprendi que o samba é uma forma amorosa de se livrar de qualquer tipo de cativeiro íntimo. Outras opções? Um passeio sexta à noite pelos barzinhos do subúrbio, de luzes e cores carinhosas. Ou, entre tantas, sair de Copa a Ipanema na esperança de andar de mãos dadas. De repente, numa dessas andanças, quem sabe, um colibri pouse no ombro da gente pra dizer que existir devia ser como o voo dele - uma imensa e permanente viagem em direção à paz.
Um comentário:
Escrevi esse texto no início de 2000 ou antes um pouco até, quando o nível de violência era bem alto. E pelo jeito, de lá pra cá, aumentou.
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