domingo, 25 de abril de 2021

Carlos Augusto Corrêa - De Olho na Poesia

Hoje, Carlos Augusto Corrêa comenta dois poemas inéditos de Oswaldo Martins.


oswaldo martins, um autor TextoTerritório
livros na promoção no site da editora

Acordei hoje, como sempre, com uma vontade canina de ler poesia. Comigo não é novidade. Decidi transcrever aqui dois poemas inéditos de Oswaldo Martins, que me interessaram sobremaneira, primeiro por pertencerem a seu novo livro ainda em preparo, o Desimitações, segundo pelo acabamento maduro de ambos.

Oswaldo Martins sempre fez um poema muito bem executado. Poesia superelaborada. Você tem de estar duas vezes acordado pra captar a força de seu texto. 

Dessa vez experimentei algo diferente na leitura desses poemas. Achei Oswaldo bem mais veloz ainda, com mais irreverência, revivendo a poesia. Como assim? Ele traz pro presente Camões e Alvares de Azevedo. Aliás, estes são também os títulos dos poemas. Posso garantir que estes poemas estão à altura, por exemplo, da poesia de Ana Cristina Cesar e podem integrar qualquer das antologias poéticas a partir de agora. Não devem nada a minha geração, a de 70. Peço aos poetas de gerações mais antigas que leiam com atenção as duas peças e tirem suas conclusões sobre esse poeta dos anos 90.

camões

das parcas e dos cantões cativos
que da puta madre lusitana
de almas minhas gentis tão cedo
de belém partiste esforçado
nuns versinhos tolos de brado
a caolha gente como em fado
cantaste, velho aedo, as armas
afiadas e prontas do massacre.

esperam-te em angolas, brasis,
nas moçambiques ou moçárabes
terras para comerem tua língua
com línguas de veneno e fel
até que do lábio soçobre o palor
da morte lenta e despistada
de ti, vate, sem língua mais
outra que a da velha lápide.

alvares azevedo

s'eu morresse amanhã muitas amantes viriam
carpir meu corpo, chorar pela endurecida
pica, a bela alícia na fronte ressequida
do defunto a mão deixaria pendente e fria.

os comichões que outrora aqui e ali sentira
haveriam de levar a impudente lia
a tocar displicente, como se aos antúrios
arrumasse, o mastro para sempre inútil

e pendente, de saudade morreria hipácia,
a grande puta, a vadia louca, talvez
flertasse com quem ao morto teso viesse

visitar, diria, então, que sol! que céu azul!
com desvario, uma cristina se achegaria
para que o defunto antes da ripa se risse

Um comentário:

elesbão disse...

Beleza. tem a marca Oswaldo Martins

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