Hoje, Carlos Augusto Corrêa comenta dois poemas inéditos de Oswaldo Martins.
oswaldo martins, um autor TextoTerritório livros na promoção no site da editora |
Acordei hoje, como sempre, com uma vontade canina de ler poesia. Comigo não é novidade. Decidi transcrever aqui dois poemas inéditos de Oswaldo Martins, que me interessaram sobremaneira, primeiro por pertencerem a seu novo livro ainda em preparo, o Desimitações, segundo pelo acabamento maduro de ambos.
Oswaldo Martins sempre fez um poema muito bem executado. Poesia superelaborada. Você tem de estar duas vezes acordado pra captar a força de seu texto.
Dessa vez experimentei algo diferente na leitura desses poemas. Achei Oswaldo bem mais veloz ainda, com mais irreverência, revivendo a poesia. Como assim? Ele traz pro presente Camões e Alvares de Azevedo. Aliás, estes são também os títulos dos poemas. Posso garantir que estes poemas estão à altura, por exemplo, da poesia de Ana Cristina Cesar e podem integrar qualquer das antologias poéticas a partir de agora. Não devem nada a minha geração, a de 70. Peço aos poetas de gerações mais antigas que leiam com atenção as duas peças e tirem suas conclusões sobre esse poeta dos anos 90.
camões
das parcas e dos cantões cativos
que da puta madre lusitana
de almas minhas gentis tão cedo
de belém partiste esforçado
nuns versinhos tolos de brado
a caolha gente como em fado
cantaste, velho aedo, as armas
afiadas e prontas do massacre.
esperam-te em angolas, brasis,
nas moçambiques ou moçárabes
terras para comerem tua língua
com línguas de veneno e fel
até que do lábio soçobre o palor
da morte lenta e despistada
de ti, vate, sem língua mais
outra que a da velha lápide.
alvares azevedo
s'eu morresse amanhã muitas amantes viriam
carpir meu corpo, chorar pela endurecida
pica, a bela alícia na fronte ressequida
do defunto a mão deixaria pendente e fria.
os comichões que outrora aqui e ali sentira
haveriam de levar a impudente lia
a tocar displicente, como se aos antúrios
arrumasse, o mastro para sempre inútil
e pendente, de saudade morreria hipácia,
a grande puta, a vadia louca, talvez
flertasse com quem ao morto teso viesse
visitar, diria, então, que sol! que céu azul!
com desvario, uma cristina se achegaria
para que o defunto antes da ripa se risse
Um comentário:
Beleza. tem a marca Oswaldo Martins
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