André Capilé enviou três inéditos. A ideia era de um edital da lei Aldir Blanc convidando autores a escrever um poema ou miniconto sobre "a vida pós pandemia". E comentou:
"Achei escrotíssimo o edital. E não era pra mim,mas pra quem tava fodido. Eu tava empregado, tinha rede de apoio, etc. Teve uma galera q achou q era tipo "concurso". Foi escrotíssimo. Fora que a grana também era ridícula. Eu fiz foi de sacanagem. Fiz pra não mandar. Joguei na timeline e meio que pedi pra roubarem."
Confiram os poemas aqui no Blog:
[1 tentativa, não deu bom]
queriam esperança? toma aí:
o que sobrou de nós vai dar um caldo,
um toma lá dá cá pra não cair.
As máscaras tombaram, travessura,
como o disse me disse dos fuzis.
Espera mais um pouco, a coisa é dura.
A nota mais sensata de amanhã,
é bom restar bem vivo para ler
nas portas dos banheiros, sempre sãs:
basta lavar as mãos – é ver e crer.
* * *
[2 tentativa, piorou um cadinho]
levantou-se, como em todos os dias.
calma, escovou-se com paciência –
cabelos & dentes – e repetia,
como se não houvesse a menor chance,
nada mais vai acontecer de novo.
* * *
[3 tentativa, a merda sempre pode ser pior]
papai saiu da casca, animadíssimo,
não vai ter mais nenhum apocalipse,
as lives terminaram bem mais cedo
e as nuvens? carregadas pelo ar.
chamou-me pelo nome, eu estranhei.
beijou mamãe, e eu estranhei bem mais.
levantem-se, é hora de sair!
papai vai infartar, eu só pensava,
melhor morrer assim que de covid.
o louco foi correndo até à porta,
pelado eu me animei, corri atrás.
era seu treinador: vai, meu guerreiro…
parou, feito de espanto, sem saber
agora o que se faz com a maçaneta.
beijou mamãe, e eu estranhei bem mais.
levantem-se, é hora de sair!
papai vai infartar, eu só pensava,
melhor morrer assim que de covid.
o louco foi correndo até à porta,
pelado eu me animei, corri atrás.
era seu treinador: vai, meu guerreiro…
parou, feito de espanto, sem saber
agora o que se faz com a maçaneta.
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