domingo, 2 de maio de 2021

Professor Injustamente Demitido, Carlos Augusto Corrêa

Saudade, já dizia uma música do tempo de meus pais, traz tanto amargor. Agora, mais amargor ainda é o que produz a censura, quando ela impede nossa liberdade de ação democrática. Há semanas, um professor de uma escola de São José dos Campos, a Poliedro, foi demitido, e por um motivo que não reputo grave. Ele não roubou, não cobiçou a mulher do outro, não pedofilou nem agrediu fisicamente ou entrou atirando a esmo. Apenas fez uma crítica ao atual presidente. 

Imagem de OpenClipart-Vectors em Pixabay

E isto é motivo de demissão? Eu era adolescente e lembro que Juscelino Kubitschek foi motivo de anedota, até de música bem-humorada. Jânio Quadros foi alvo de sátiras. Mas Jair Bolsonaro não pode receber qualquer reparo crítico numa escola. Já bastam as críticas que ele recebe na net.

Gente, um professor perdeu o emprego devido a sua manifestação mais do que democrática. E a forma como foi tramada a expulsão foi mais lamentável ainda. Um aluno maliciosamente, e sem a autorização do mestre, filmou a aula e deve ter se sentido de "alma" aliviadíssima pela grandiosa ação.

Se perceberem bem, e eu meses atrás já havia comentado, o governo está levando o estudante a delatar - e um de seus maiores amigos: o professor. Ele não está mais preocupado com a formação, sim com a informação. O relacionamento afetivo, a solidariedade, a competição sadia e outros traços tão importantes, passados, inclusive pelo mestre no dia a dia, são postos em segundo plano pois o traço mais importante passou a ser agora a delação. Esta que, pelo visto, deverá ser posta em prática em nome da ordem, do progresso, da família e da propriedade privada.

O curioso é que essa mesma escola que demitiu declara em seu regimento que a filmagem só deve ser executada com o consentimento da pessoa. Não foi o que se deu. Afirma também que está aberta à pluralidade de ideias e para o diálogo. Pelo que se viu, a teoria foi por terra abaixo: o preconceito e a discriminação venceram.

No vídeo, o professor critica igualmente o discurso da primeira dama, Michelle Bolsonaro. Por tudo isso recebeu a (in)devida punição, e esse fato demonstra que voltamos de uma forma ou de outra aos velhos e maus tempos. 

A escola não pode ser um espaço onde cada um policia o outro. Jamais será um quartel. Quem pratica esse mau hábito merece repreensão severa, mas democrática, da direção da escola junto com a coordenação. Um estudante que faz isto e ainda insiste por influência de escola, de pais, de quem for, merece estar fora do estabelecimento de ensino, bem longe de um lugar onde a gente aprende a amar, a refletir e a inventar

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