sábado, 8 de maio de 2021

Crônica Rebelde, Carlos Augusto Corrêa

 
Cena do filme Laranja mecânica, de Stanley Kubrick

 
Há hora em que ponho de lado o humor e falo com mais coração. Imaginem, essa gente que se reuniu sábado, 1º de maio, pede de volta uma ditadura que nada tem com a vocação democrática desse país. São pessoas que não experimentaram a alegria e o alívio que sentimos quando esse povo conseguiu derrubar a coronelada em 85 e entrou na Nova República. Lembro a Rua da Carioca como ficou. Era sorriso de um canto a outro. Armaram uma mesa gigantesca com comida e bebida pros presentes. Era a volta da democracia.

Vocês que desejam outra vez a sociedade militarizada não gostam da necessidade de pensar e debater. Querem um só pensamento, querem que se respire um clima opressivo, que se escreva uma lição apenas, que se circule por caminhos previamente executados. E nossa gente só terá direito àquilo que a direita  considera direito. 

Por que adoram tanto o silêncio social? Aquele silêncio que me obriga, obriga a ele e a tantos outros a agirem como os de cima exigem. Isto é humano? A democracia que pregam é uma democracia de asas rompidas, de bandeirolas verde-amarelas tremulando em silêncio e sobretudo aplaudida pela cúpula armada.

Quem aspira hoje a uma ditadura não aceita que somos o país de Gregório de Matos, de Castro Alves, de Cruz e Sousa. Não aceita a arte redentora de Graciliano e Drummond, de Guimarães e Clarice. Não sente que tivemos um Prestes e Gregório Bezerra, tivemos Tiradentes e outros tantos.Todos, todos que lutaram pela abertura da consciência pessoal e coletiva e jamais quiseram viver subjugados.

Não, companheiros, quem vive pela democracia jamais gosta de viver pela metade. De viver partido.

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