Nesta última postagem da série "Liberdade sempre", Oswaldo Martins apresenta-nos trecho inédito de um livro que está em gestação. Aqui, um Manuel (Bandeira?) circula às voltas com a truculência de assassinos, mandantes e bajuladores em um ambiente irrespirável, seja pela tísica, pelo vírus ou pelas trevas.
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Sanatorio Niños Tuberculosos Abandonado - Habitacion Siniestra Foto: JorgeSO |
Manuel ficara sem ar. Estava acordado. A perplexidade não lhe permitia fazer versos de guerra; a descendência do mundo terminaria como a saúde ameaçada por essa grande tísica que invadia seu olhar fatigado das terras que, inventadas, marcaram com o fogo, com o assassínio, com a truculência dos novos ditadores os espaços a serem tomados aos homens, subjugando-os até o limite da bajulação, uns; outros, até o da animalidade.
Manuel ficara sem ar. A aurora apagava-se, e ele guardava as mais puras lágrimas da aurora. Atonia. Não queria mais amar nem mais ser amado. Não queria mais combater nem mais ser soldado. Perplexidade nos olhos de Esmeralda, nos olhos de Manuel. O sonho tenebroso tomava sua forma, enxergava-o ali a um toque de mão, vívido, grotesco, como Joana, a rainha louca de Espanha. As mortes o acompanhariam sempre.
Manuel ficara sem ar. O sol estivera claro. Agora a alma anoitecia. Esmeralda! Era um grito perdido entre os cavalões que cercavam a praça, atiçavam, recolhiam as pobres gentes, os clóvis, os ciganos, os judeus, os homossexuais, os negros, os índios – os cavalinhos, cercados animais para o divertimento e a ilicitude destes tempos de treva e homens armados.
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