domingo, 18 de abril de 2021

Militarizar o País!? Jamais, Carlos Augusto Corrêa

A crônica dominical de Carlos Augusto Corrêa também incorpora, hoje, o tema Liberdade sempre, vamos à reflexão do cronista carioca.


Tiradentes, Candido Portinari. Foto por André Deak.
Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, Barra Funda. No Salão de Atos.


Tenho, desde o início desse governo, dormido e acordado com uma ideia incômoda. A de que desejam que nosso país seja dominado por uma elite militar. Difícil imaginar de novo vivermos sob um silêncio social forçado. Não vivi o autoritarismo de 37. Porém, já adolescente, experimentei a triste ditadura de 64. Como sou filho de um pai democrata, aprendi a rejeitar toda forma de militarismo no poder.

Meu pai (uma vez já me referi a isso) falava baixo nomes como Hitler, Mussolini, Plínio Salgado pra que não me influenciasse por esses monstros da agressão ao homem. Foi o que fiz mais adiante com os nomes de medici, geisel, castelo branco e o restalho.

Como, então, aceitar que o governo atual militarize o poder? Já não bastam 64, 69? Nos anos 80 nos livramos do regime de caserna. E minha geração, a de 68, pensou: - para sempre. Nós que havíamos passado parte da infância, toda a adolescência e mocidade numa sociedade militarizada, não podíamos admitir que dali por diante o país voltasse a fazer o mesmo. Por que voltar à filosofia do "ter que ser", "ter que agir", do "ter que se curvar pra se idolatrar uma pátria abstrata, idealizada"?

O governo, de um lado, militariza o poder; de outro, descuida-se de setores fundamentais, como a saúde. Chegamos hoje à marca vexaminosa de mais de 350 mil mortos por covid. Um governo que não comprou 70 milhões de vacinas da Pfizer e 200 milhões da Sputnik e deixa pacientes serem entubados sem anestésico. Governo que estimulou a aglomeração, desestimulou o uso de máscara e boicotou medidas de isolamento social decretada por governadores.

Em vez de se interessar por problemas essenciais, não. Faz questão de transformar o país numa nação militar. E os que se voltam contra essa decisão estão sofrendo as consequências. Já correm notícias de prisões de cidadãos que chamaram de genocida o presidente. Estão matando a liberdade de expressão e opinião. Por que a oposição não tem o direito de se manifestar? Não se pode falar? Isto cheira a clima de 64, 69. Aliás, esse mesmo cheiro indesejado venho notando, desde o início do governo de Bolsonaro, o desejo de se voltar aos maus tempos. O atual chefe da nação teve a coragem de censurar a filosofia e a sociologia, não tornando a elas matérias obrigatórias. Desvalorizou a literatura. Atitude lastimável. Às patas de cavalos preferimos o voar de passarinhos.

Do início do mandato até julho de 2020, ele aumentou em 33% a presença de militares da ativa no governo, com mais de 2.500 integrantes em cargos comissionados em 18 órgãos. 

É um golpe profundo no poder da democracia. Não foi esta a lição que Tiradentes nos deu, que nossos governos democratas nos deram. Não foi esta a lição que nos deram um Drummond, um Niemeyer, um Prestes, um Castro Alves, um Machado. Não podemos viver em uma sociedade que respira o clima de um quartel. Não queremos viver numa senzala. 

Temos que mudar o ciclo dessa história recente em que vive o Brasil. É preciso deixar o Congresso respirar, os partidos se manifestarem, há que deixar a população falar bem alto em nome do país, porque só ela e os dirigentes democratas é que podem decidir dobre os rumos da nação.

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