domingo, 5 de dezembro de 2021

Os Apelidos que me Incomodam - Carlos Augusto Corrêa

General da banda - Blecaute

O povo, sobretudo quem trabalha no comércio, costuma chamar os frequentadores com nomes de altos cargos. Eu, assalariado mais do que habitual nas ruas do Rio, já fui, como muitos, chamado de chefia: este é antigo, bem vovô mesmo, é que ainda hoje a gente de mais idade fala.

Já me chamaram de comandante, de chefão, de presidente (imaginem, foi no tempo em que eu frequentava uma biboca ali do Passeio Público). Um funcionário de um bar do Lido se achava amigo quando se dirigia a mim como general. Nem da banda eu era, o Blecaute sabia disso. Já o Bigode, um mestre no deboche carioca, dizia ser eu marechal. Aquilo, no fundo, me fazia mal, porque me lembrava de um militar, ditador no passado. Na boca de outros, fui tenente, major. E quando me viam com cara de sargento? Dios meu...

Claro que, por trás de todo esse chamamento, a gente percebe o humor e mais do que isso, a necessidade de agradar. Reação típica não apenas do carioca.

Outro dia fui tomar café em um barzinho da Presidente Vargas onde bebo há anos, e um amigo, mal me viu, soltou um e aí, capitão? Puxa, pensei, já não bastam tenente, major, sargento, general e o mais elevado: marechal? Agora me vêm com um epíteto desses! Capitão... capitão... Será que estaria se lembrando do Capitão Marvel, dos antigos quadrinhos? Ou do Capitão América? Não tenho nenhum traço que faça lembrar a eles, nem do Capitão Haddock, das Aventuras de Tintim. Não é possível que esse amigo, mais ou menos de minha época, tenha achado que me parecia com o Capitão Gancho?
 
Ora, não gosto de ser associado a coisa ruim, a alguém perverso, preconceituoso ou a algo semelhante. Sinceramente não gostei. E ainda bem que foi só naquele dia. Capitão é palavra que, além de sugerir hoje perversidade, me faz sentir mau cheiro, tanto quanto marechal.

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