Assim Não Dá, Presidente
Carlos Augusto Corrêa
Penso que boa parte da nação está procurando escape pra enfrentar a rotina do confinamento social. Tenho lido várias soluções pra superar a melancolia e a irritação desse modo de estar. Eu mesmo, como outros tantos, já escrevi dando sugestões pra abrandar o problema.
E apesar de todo esse esforço de superação mais o excessivo cuidado de não contrair o covid-19, ontem entrei na rede social e leio uma declaração do Jair Bolsonaro dizendo que "só os fracos, doentes e idosos devem se preocupar" com a enfermidade. Essa afirmação não é mais verdade. A doença se espalhou e agora atinge a todos. Anteontem escrevi uma crônica em memória de um dos meus fisioterapeutas que aos trinta e tantos anos partiu. Semana passada, o bisneto de uma amiga também se foi. Tempo de vida dele: um ano. Aí vêm os opositores e dizem que estes são casos isolados, o que também não procede. É pesadíssima a situação. Outro dia foram, em 24 horas, 1.039 mortes. Ao todo no país: 24.512.
Ao dizer que só uma fatia do público pega a "doencinha", quer abrir o local de trabalho, que a vida volte à normalidade e também (por que não?) que haja mais infectados e óbitos. Os fracos, os doentes e idosos é que devem se preocupar. E os que vão trabalhar? Ficarão expostos ao vírus e será maior o risco de também infectarem os que estão confinados. São verdades já sabidas, porém vale repetir. A repetição às vezes reforca verdades. O presidente está mandando voltar à labuta porque a economia vai a colapso. Gente, a economia não é maior que a saúde: sem esta, ela não caminha.
De que adianta você fazer um baita esforço pra conviver com o confinamento social e reforçar o cuidado pra não pegar a doença? O presidente, que aos 65 anos anda sem máscara, sugere a volta ao trabalho. Significa o mesmo que você carregar uma pedra enorme até o topo da montanha e depois escorregar e a pedra vir abaixo. É trabalho de Sísifo. O mais grave de tudo isso. É que voltar ao trabalho nesse momento significa também o coronavírus se espalhar mais e mais pelas comunidades. Que horror!
Quando o circo está pegando fogo, não podemos acender fósforo. Não podemos circular em vários pontos da cidade acendendo tochas. Senão a casa cai, inclusive a do presidente. É uma verdade o fato. E lastimável.
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