sábado, 6 de junho de 2020

Conversa com Vinícius Porque Hoje É Sábado Carlos Augusto Corrêa

Conversa com Vinícius Porque Hoje É Sábado

Carlos Augusto Corrêa





Nessa quarentena, poeta, estou também vivendo esse sábado como aquele em que a gente deseja se soltar e falar como você:  porque hoje é sábado. Sim, vontade de me lançar como você fez em 1946 num Brasil que havia saído há pouco da guerra, e também certamente estava querendo o sábado.

Seu poema tem muito o que nossa gente gostaria de fazer hoje. Todos os bares estariam agora repletos de homens vazios, porque hoje é sábado. E estariam mesmo, não fosse a covid. Todos ou quase todos os maridos estariam funcionando regularmente, ao menos é o que se espera, porque hoje é sábado. E todas as mulheres estariam atentas.

No dia de hoje lá em sua época sei que havia um casamento que neste momento não haverá, a não ser que se casem dentro de casa e façam neném ali dentro. Porque hoje é sábado.

Será que nesse sábado de inverno há um homem rico que se mata? Procurem na net. Mais provável ser ele de comunidade ou de classe média que, cansado de viver trancafiado e assalariado, resolveu ir pra um paraíso ou Shambala além dos céus.

Sim, concordo, nesse agora também há um incesto e uma regata, contudo não há um espetáculo de gala. O espetáculo quem dá é um chefe de nação que facilmente se expõe ao ridículo falando e fazendo o que não devia. Por que hoje é sábado.

Esse porque hoje é sábado que você tanto usa reflexivo e comovido é bonito em sua caneta. Já eu e os demais não sentimos essa beleza porque somos marcados por uma melancolia de quarentena. E uma revolta. Poeta, estou sabendo que uma mulher ainda apanha e se cala. Será porque hoje é sábado?

Olhe algo interessante entre o seu e o nosso sábado. É que há uma profunda divergência entre nossa gente e o governo que nos rege. Felizmente você não está aqui pra dizer o porque hoje é sábado. Caso contrário, incluiria neste sábado ainda criancinhas que não  comem e um piquenique de políticos, o que piora a marcha dos dias.

Poeta, existe também algo seu que eu devia transcrever nessa crônica comovida. É que, apesar de todas as mazelas do cotidiano de brasileiro, tanto você  quanto nós aqui sabemos que há um renovar-se de esperanças. E tudo isso e mais ainda porque hoje é sábado.

Um comentário:

Unknown disse...

Beleza, Alexandre, a homenagem que fizeram a Vinícius.Comovente.

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